Background Image
Previous Page  119 / 312 Next Page
Basic version Information
Show Menu
Previous Page 119 / 312 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 17, n. 66, p. 114 - 137, set - dez. 2014

119

Mesmo antes de ser signatário daquele protocolo, o Brasil já se

“destacava” no cenário internacional. Como explicam os professores An-

dre Barros e Marta Peres

11

, ainda em 1830, era editada a primeira lei con-

tra a maconha do mundo: a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, através

do código de posturas, penalizou o “pito de pango”

12

, no § 7º que regu-

lamentava a venda de gêneros e remédios pelos boticários, à época, apli-

cando pena de prisão de 03 (três) dias a “negros e outras pessoas”. Ainda

parafraseando os professores, as raízes da criminalização da maconha no

Brasil, quando tal não era nem objeto nas Convenções Internacionais, es-

tão ligadas à diáspora africana e à violência contra um hábito dos negros.

De fato, os cerca de 15 mil portugueses que chegaram ao Brasil com D.

João VI, fugindo de Napoleão, assustaram-se com a ideia de viver numa

cidade cuja maioria da população era de escravos. Em 1809, foi criada a

Guarda Real de Polícia, que viria a substituir a atuação dos capitães-do-

-mato no que diz respeito à “polícia de costumes”: repressão de festas

com cachaça, música afro-brasileira e, evidentemente, maconha.

Mais à frente, com o fim da Primeira Guerra Mundial e a posterior

formação da Liga das Nações, ocorreram outras convenções, sendo a Con-

venção de Genebra, de 1925, a mais importante. Todas subscritas pelo

Brasil e promulgadas internamente 

13

. Configurava-se o que Salo de Car-

valho 

14

 denominou de transnacionalização do controle. Em 1961, surge a

Convenção Única Sobre Entorpecentes, de Nova York - ratificada por cerca

de cem países, liderados pelos Estados Unidos - unificando e fortalecendo

os anteriores tratados sobre drogas.

No Brasil, com o golpe militar de 1964, há

o ingresso definitivo de

nosso país no cenário internacional de combate às drogas, sobrando o

modelo sanitário para quem se encaixasse no estereótipo da dependên-

cia, isto é, os jovens de classe média e alta 

15

. Isso significa que o mode-

lo sanitarista deixa de ser primordial, para ser implementado o modelo

intervencionista. “É necessária uma breve análise do contexto histórico

que favoreceu a mudança do modelo sanitário para o modelo bélico.

11 BARROS, Andre. "Maconha no Brasil: proibicionismo, racismo e a luta pela descriminalização". Disponível em

https://pt-br.facebook.com/advogadoandrebarros/posts/176295539188811

- Acessado em 11/09/2013.

12 Cachimbo utilizado para fumar maconha.

13 Pelos Decretos 22.950, de 18 de julho de 1933, 113, de 13 de outubro de 1934 e 2.994, de 17 de agosto de 1938.

14 DE CARVALHO, Salo.

Política Criminal de Drogas no Brasil

, A - Estudo Criminológico e Dogmático. 4ª ed. Lumen

Juris: Rio de Janeiro, 2007, p. 14-19.

15 Cf. BATISTA, Vera Malaguti.

Difíceis Ganhos Fáceis.

Rio de Janeiro: Revan, 2004.