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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, p. 37 - 60, Setembro/Dezembro 2017

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Como já dissemos, há um custo global atual de cerca de R$

1.403.419.200,00 para manutenção da população carcerária quanto aos

Estados, sendo necessários, ainda, outros R$ 600.763.200,00 para imple-

mentar as 250.318 vagas faltantes. E os gastos com segurança pública estão

subindo ano a ano (cerca de R$ 68,64 bilhões em 2014 e R$ 76,2 bilhões

em 2015),

de onde é claríssimo que valores que poderiam se prestar ao

sistema penitenciário, de forma muito mais adequada aos fins sociais, es-

tão indo para a segurança pública para conter

, dentre vários problemas,

a criminalidade oriunda do sistema penitenciário falho e muitas vezes

dominado pelo crime organizado.

À prática criminal gravosa segue-se, quando havida a devida

apuração, o cumprimento da pena nos estabelecimentos prisionais, que,

em condições medievais, aprimoram a delinquência dos internos, até

mesmo por força do controle e da submissão aos ditames dos grupos

criminosos organizados que comandam a vida interna desses ambientes.

Daí porque é

uma oitava inverdade conveniente

negar a utilidade de inves-

timento qualificado no sistema penitenciário.

Não se pode tangenciar a responsabilidade econômica quanto à ques-

tão penitenciária. Embora essa postura de fuga aos deveres seja uma ca-

racterística inata do brasileiro, é o momento de se enfrentá-la adequada e

racionalmente, sem o que só veremos a situação piorar, no futuro, com o

incremento de um crime organizado que, à falta do Estado, incorporou as

penitenciárias como elementos lucrativos e essenciais em suas empresas.

Um modelo inspirador e que fala por si é o da Noruega (CON-

JUR, 2012). Rico, culto e desenvolvido, aquele país nórdico tem taxa de

reincidência de apenas 20%, contra 50% na Inglaterra e 60% nos Estados

Unidos (CONJUR, 2012). A ideia reinante nas suas penitenciárias é de

recuperação do indivíduo em estabelecimentos-modelo, com equipes de

trabalho longamente preparadas para lidar com os apenados e infraestru-

tura muito boa (médicos, biblioteca, dentistas, aulas diversas etc.), inclu-

sive com prisões sem grades. Os noruegueses têm 73 presos por 100 mil

habitantes (não esqueça, o Brasil tem 306), enquanto os suecos têm 70 e

os dinamarqueses 74, ambos por 100 mil habitantes, que seguem a mesma

linha do sistema penitenciário norueguês.

Fundamentalmente, ainda que se considere caro ao restante da socie-

dade, predomina nesses países a sistemática de efetiva reabilitação e correi-

ção, com reforma das deficiências do indivíduo e não do sistema, para que