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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 77, p. 78 - 100, Janeiro. 2017

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Por outro lado, Will Gompertz

3

, veterano à frente da Tate Gal-

lery em Londres, descreve arte como sendo “um dos maiores praze-

res da vida”, no livro cujo título empresta ao leitor a dificuldade do

que virá à sua frente:

O que é arte?

.

A verdade é que os artistas são produto do seu tempo e cos-

tumam dar voz à sociedade. A transformação das belíssimas obras

que retratavam com rigor e fidelidade a realidade de Michelange-

lo e Rafael, para simples pinceladas, já no impressionismo, quando

os pintores começaram a abandonar seus ateliês para enxergar, nas

ruas, as mudanças na construção de Paris, deixa evidente o sinal da

mudança.

Segundo Gompertz

4

:

“Se eles queriam captar a sensação de um momento fugaz com

algum senso de verdade, a rapidez pertencia agora à essência.

Não havia tempo para se alongar em laboriosas gradações de

luz, porque a próxima vez que o artista levantasse os olhos

elas teriam mudado. Em vez disso, pinceladas urgentes, tos-

cas, aplicadas com imprecisão, substituíam o refinamento

estudado, combinado, do “grande estilo”, pinceladas que os

impressionistas não faziam nenhuma tentativa de esconder; ao

contrário, eles acentuavam seu manejo do pincel pintado em

toques grossos, curtos, coloridos, parecidos com vírgulas, que

acrescentavam uma impressão de energia jovem a suas pintu-

ras, refletindo o espírito de seu tempo”.

Não que não houvesse barreiras capazes de tolher a criação e

a liberdade de expressão, diante da presença constante da Academia,

empenhada em manter a herança estética adquirida ao longo dos sé-

culos, todavia, o público também se mostrava ávido por mudanças;

e elas vieram.

Com a chancela dos que enxergam a arte como produto do seu

tempo, o grafite somou à cultura várias pinceladas, com a linguagem

dos excluídos, e trouxe para os muros das cidades, o cotidiano do

belo e do horror provincianos dos guetos.

3 GOMPERTZ, WILL.

O que é arte?

4 Ob. citada. P. 34.