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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 75, p. 285 - 304, jul. - set. 2016

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Maria Berenice Dias

A pioneira do RS, empossada em 1973, foi a mais fácil de ser aces-

sada. Eu já a conhecia e admirava seu trabalho antes mesmo de me voltar

à temática mulheres e magistratura. De toda forma, até mergulhar na pes-

quisa, nem eu sabia que ela tinha sido a primeira magistrada de seu esta-

do. Berenice Dias pode ser considerada uma pessoa “famosa” justamen-

te por conta de sua carreira profissional desbravadora, mas também por

não ter medo de declarar publicamente suas posturas políticas. Também

primeira desembargadora de seu estado, lutou publicamente por essas

suas conquistas pessoais utilizando-as como fundamento para alardear

a ,necessidade da igualdade de gênero dentro e fora da profissão. Se au-

tointitula feminista (uma raridade entre as juízas), desenvolveu uma série

de trabalhos sobre homoafetividade no Direito (este termo, inclusive, é

de sua autoria), está constantemente envolvida em lutas sociais e é larga-

mente convidada a proferir palestras em diversos círculos acadêmicos no

Brasil e no exterior, tendo sido também professora da UFRGS.

Berenice é filha e neta de desembargadores e se diz apaixonada

pelo Direito desde muito nova. Considera que em sua família nuclear ha-

via dois modelos de vida a serem imitados: o do pai, um profissional da

área jurídica que adorava a profissão, e o da mãe, uma mulher “do lar”.

E afirma que, claramente, se espelhou no primeiro para definir o tipo de

vida que teria, pois entende que desde criança questiona e não se encaixa

plenamente no lugar tradicional feminino.

Dos cinco irmãos, foi a única a entrar no Direito e, desde a ado-

lescência, decidiu trabalhar fora e seguir a carreira dentro da área, mes-

mo sabendo que era “sem a mínima chance de entrar na magistratura,

né?”. Começou como datilógrafa do TJRS, chegando até a secretaria da

vice-presidência. Aos 24 anos já estava formada e com a certeza de que

queria ser juíza, independentemente do fato de que, até então, não havia

mulheres na profissão e todas as inscrições femininas nos concursos eram

indeferidas.

“Eu plantei minha aceitação. Porque eu fiz questão de ir tra-

balhar no Tribunal. Antes de ingressar, porque eu queria que

os desembargadores me conhecessem. Eu queria meio que

mostrar pra eles assim: ‘olha, eu sou uma pessoa que tenho

condições’. Então o fato de eu ser filha de desembargador