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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 68, p. 60-79, mar. - mai. 2015

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A guerra, levada a efeito pelo Estado Islâmico, possui algumas ca-

racterísticas que merecem ganhar relevo: a) possui o respaldo na fé Is-

lâmica. Seguem os ensinamentos de Maomé que, no início do Império,

também se utilizou da guerra ou -

jihad

- para propagar e manter os ideais

de Alá: b) abandona a visão racional de guerra defensiva e de respeito aos

inimigos, para estrategicamente adotar uma linha de extrema violência;

c) utiliza um velho sonho de renascer um império que poderia dominar o

mundo através da religião, como ocorreu com a Alemanha, de Hitler e a

Itália, de Mussolini.

Seus líderes, grandes estrategistas, levaram inicialmente o grupo de

insurgentes a combater no conflito interno da Síria

28

juntando forças com

a Al-Nusra

29

, e inúmeras outras organizações

jihadistas,

o que facilitou,

de certa forma, a conquista de parte do território sírio a ser somado com

parte do território Iraquiano já conquistado.

Abu Bakr AL-Baghdadi declarou existente o Estado Islâmico para o

mundo, proclamando-o, assim como sua Capital a cidade de Raqqa

30

, ad-

ministrada como as demais, com crueldade pelos seus seguidores. Pelo

que se tem notícia não são raras as execuções por dia, inclusive crucifi-

cações em praça pública, assim como degolas, devidamente filmadas e

colocadas nas redes sociais.

7. AS ORIGENS DO JIHAD VIOLENTO

Um rápido pulo na história das religiões vamos concluir que, senão

a totalidade, pelo menos a grande maioria possui interseções militares de

guerras, conquistas, vilipêndios, crueldades em nome de Deus. Assim foi,

por exemplo, com a religião cristã. Das cruzadas

31

aos terrores da inquisi-

28 A Síria liderada pelo seu presidente Bashar AL-Assad passa por sérios conflitos internos, uma guerra civil abrangente

e extremamente cruel. Teve início em Janeiro de 2011 quando os sírios fizeram grandes manifestações populares pela

redemocratização do país. A total falta de bom senso e capacidade política de Assad, que tentou massacrar os movi-

mentos com o peso da violência, a insensibilidade política e a falta do diálogo, levou os movimentos populares a uma

insurgência armada que foi crescendo em velocidade espantosa. Em Agosto do mesmo ano já estavam constituídos o

Exército Livre da Síria e o Conselho Nacional Sírio como expoentes no combate ao presidente Assad. Após, inúmeras

organizações

jihadistas

sunitas - ou não - envolveram-se na dramática guerra civil que está destruindo o Estado Sírio.

29 A Al-Nusra é considerado um seguimento da Al-Qaeda na Síria.

30

Revista Carta Capital,

Editora Confiança, ano XX, n. 829, 10 de dezembro de 2014.

31 OUDENBOURG, Zoé,

in

As Cruzadas

, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro,1968, p. 171 e segs, faz dramático

relato do “Grande Massacre” de 1099, dos soldados santos à populações mulçumanas e judias:

“Soldados de Cristo,

senhores da cidade santa, percorriam as ruas e as ruelas, os jardins, os pátios, arrombando as portas das casas e

das mesquitas e matando, matando todo aquele que lhes caia nas mãos, não mais soldados, os primeiros a serem

mortos, mas civis, homens, mulheres, crianças e velhos. Os judeus foram aprisionados na sinagoga - tantos quanto

a sinagoga podia conter - e esta incendiada...