

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 88 - 104, jan - fev. 2015
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VI.
O que então advém à análise é a constatação de que o espa-
ço próprio do Mesmo é tumultuado pela irrupção do espaço do Outro,
pela espacialidade do outro que porta sua presença, ou que sua presença
porta. O Outro faz-se proximidade ética, e proximidade é primariamen-
te um processo de aproximação, de encontro, entre espaços diversos, a
possibilidade de uma
intersecção humana
. Contra a
Arché
ontológica da
neutralidade do ser, estabelece-se pela presença do Outro uma
An-archia
traumática, a indefinição de um nascimento possível, a possibilidade de
inauguração de uma
história ética
. Todos os espaços definidos estão sub-
vertidos: a urgência de um espaço ético se infiltra nas três dimensões da
segurança do espaço bem medido. A presença, exigência ética do Outro,
ocupa tão pouco espaço no mundo do Ser, que se torna incomensurável
ao ser: já não é maior ou menor presença, apenas se dá presente.
O es-
paço da presença do Outro é a absoluta urgência, a não postergabilidade
da resposta ética
. O Outro ocupa tanto espaço quanto sua irredutibilidade
ao Mesmo. Seu espaço encontra seu tempo em seu aparecer, ao escapar
de uma espacialidade controlável. E isso porque o Outro não pertence ao
passado do mesmo, não integra o conteúdo do passado lógico do ser, não
se aninha entre as conquistas do Ser. O passado do ser é o resultado de
uma sincronização dialética entre o Ser e o Não-ser, onde o Não-ser ocupa
o espaço a ele destinado pela
Aufhebung
a que esteve sujeito. Este passa-
do foi
neutralizado
e
integrado
ao presente da Totalidade. Ele permanece
uma presença reflexiva, esclarecida, um troféu na história do ser, a con-
jugação violenta de tempos diversos. Os tempos do Mesmo têm sentido
quando estão todos pontualmente concentrados em um momento sinté-
tico da atualidade total.
O passado está presente ao Mesmo quando não
permaneceu passado, quando não pôde permanecer Outro em relação
ao tempo do todo
. As migalhas do passado que permaneceram em seu
próprio tempo estão irremediavelmente mortas, o não esclarecido não se
encontrou com sua luz sincrônica.
Mas também o tempo do futuro do Mesmo está concentrado no
presente. O que pode ser o futuro da Totalidade senão a antecipação lógi-
ca de sua totalização, uma
projeção
em seu sentido mais estrito? O futuro
do Mesmo é a confirmação de sua dinâmica própria, é um futuro neces-
sariamente fechado em si e no presente, pois a ele converge teleologica-
mente o seu fim como completação da Totalidade e como completação
em si mesmo.
O futuro é o limite presente da Totalidade, pois está nela,