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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 570- 586, jan - fev. 2015

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cer!”), concentrados no crack, ignoram completamente a realidade: os

usuários de crack são basicamente poliusuários. O crack é apenas uma

das substâncias psicoativas consumidas pelos entrevistados, que usam

simultaneamente tabaco (92,8%), álcool (83,8%), maconha (76,1%), coca-

ína propriamente dita (52,2%), inalantes como cola e solventes (26,4%) e

outras drogas em menores percentuais.

Presente no Brasil desde 2012, a organização não governamental

Law Enforcement Against Prohibition (LEAP Brasil), que milita para contri-

buir com fim à guerra às drogas, se pronunciou a respeito da publicização

dos primeiros dados produzidos no Brasil sobre o tema, comparando-os à

realidade americana da década de 80 e 90.

“O falsamente criado pânico em torno do crack é cópia per-

feita da histeria sobre a mesma substância que dominou a

cena nos EUA de 1986 a 1992. Lá, a consequência foi a intro-

dução na legislação norte-americana de penas mais rigorosas

para crimes relacionados ao crack, o que constituiu fator signi-

ficativo para o aumento da impressionante disparidade racial

que caracteriza o encarceramento massivo registrado naquele

país. Lá, como aqui, o falsamente criado pânico em torno do

crack serve de alimento para a política de “guerra às drogas”,

servindo especialmente para criminalizar os pobres, margina-

lizados, excluídos, não brancos, desprovidos de poder. É preci-

so pôr fim a essa discriminatória, insana, nociva e sanguinária

política. É preciso legalizar e consequentemente regular a pro-

dução, o comércio e o consumo de todas as drogas”

13

.

Como é possível notar, o que há é, mais uma vez, a construção de

um fato político, pouco questionado pela imprensa, o que também não é

uma novidade. O papel da mídia na construção de problemas políticos e

sociais, a exemplo do citado, por vezes, dotado de informações incorretas

e distorcidas é prática comum.

Muitos dos problemas que ocorrem na sociedade contempo-

rânea são tornados públicos por meio de noticiário na mídia.

E isso exerce um grande impacto sobre as resoluções e opi-

13 Estudos da Fiocruz sobre uso de crack no Brasil:

http://www.leapbrasil.com.br/noticias/

informes?ano=2013&i=183&mes=9 Acesso em 07.12.13, 02:07.