

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 570- 586, jan - fev. 2015
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a definição remeta à doença, a face bélica das políticas de segurança se
sobrepõe à saúde. Há pouca informação de qualidade que ateste a real
situação do uso de crack no Brasil.
A única pesquisa do tipo no Brasil foi divulgada em 2013 pela Fun-
dação Osvaldo Cruz (Fiocruz). Os estudos “Estimativa do número de usu-
ários de crack e/ou similares nas capitais do país” e “Perfil dos usuários
de crack e/ou similares no Brasil” foram encomendados pela Secretaria
Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD)
10
.
O primeiro estudo estimou o número de usuários regulares de “cra-
ck e/ou similares” (uso em pelo menos 25 dias nos últimos seis meses)
nas 26 capitais do país e Distrito Federal para o ano de 2012, em torno de
370 mil pessoas. Este número corresponde a 0,81% da população desses
municípios (0,70% para adultos e 0,11% para crianças e adolescentes).
Diante deste levantamento desmonta-se o funcional discurso proi-
bicionista e de disseminação de pânico, que propagandeia a ideia de que
haveria uma “epidemia” de crack no Brasil.
Sucessivamente, vão sendo quebradas várias ‘certezas’ infundadas
tomadas por verdade e perpetuadas pela reprodução indiscriminada e
inquestionada da imprensa, que, não raro, só fortalece o senso comum
acerca do tema, criando factoides como o do aumento da criminalidade e
violência, praticados pelos “inúmeros” usuários de crack.
Em
Omedo do crime na Cidade do Rio de Janeiro: Uma análise sob
a perspectiva das Crenças de Perigo
(2011), Doriam Borges descreve que
a perspectiva de vitimização é um dos fatores explicativos para o medo do
crime utilizado na literatura sobre o tema. Essa perspectiva é baseada na
ideia de que o medo do crime é causado pelo nível de atividade criminal
ou pelo que as pessoas ouvem sobre a criminalidade, quer em conversas
com outras pessoas, por conta da mídia ou experiência direta (Bennett,
1990,
apud
Borges 2011).
10 Estimativa do número de usuários de crack e/ou similares nas capitais do país
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&ved=0CCgQFjAA&url=http%3A%2F%2Fportal.mj.gov.
br%2Fservices%2FDocumentManagement%2FFileDownload.EZTSvc.asp%3FDocumentID%3D%257B9B17D77F-
C442-4B2B-8705-117920F30C6F%257D%26ServiceInstUID%3D%257B74624DEB-0C14-4B3A-B8F3-
CD26DEF53FC1%257D&ei=oAjWUtSXD8bhsATDt4LYBA&usg=AFQjCNGaBbXPBlCFihH7bvMKCyCZrnyv8Q&bvm
=bv.59378465,d.cWc e Perfil dos usuários de crack e/ou similares no Brasil
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&ved=0CCYQFjAA&url=http%3A%2F%2
Fwww.casacivil.gov.br%2Fnoticias%2Fperfil-brasil.pdf&ei=9gjWUrKKG-zFsATy3oGwDw&usg=AFQjCNFxeAxInTrrBtxg4xzMyzyk71BvsQ&
bvm=bv.59378465,d.cWc Acesso: 06.12.2013, 20h53.