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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 570 - 586, jan - fev. 2015

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entanto, o paradigma da guerra e a ideia do “mal universal”

adquiriram maior extensão e intensidade. Materializando-se

na criminalização de condutas massivamente praticadas em

todo o mundo, a proibição às drogas tornadas ilícitas forne-

ceu e fornece o impulso requerido pela consolidação de uma

globalmente uniforme tendência punitiva e uma extensão do

poder punitivo sem paralelos (...)

1

.

Mas, claro, a guerra não é contra todos os produtores, comercian-

tes e consumidores pobres, não brancos, marginalizados, desprovidos de

poder, que circulam em territórios populares e favelas e seus semelhan-

tes. Apenas os vulneráveis se encaixam no papel do inimigo a ser combati-

do: não brancos e não pertencentes à elite econômica. Em 2012, relatório

produzido pelo Senado Americano

2

mostrou que o Banco HSBC permitiu

que traficantes lavassem dinheiro no México e fez negócios com empresas

ligadas ao terrorismo. Sem prisão, sem tiros, sem sangue, sem veículos

blindados chamados de caveirão. Assim como é o consumo de drogas na

Avenida Vieira Souto, em Ipanema, Rio de Janeiro, famosa por ter um dos

mais altos custos por metro quadrado da América Latina.

A adoção de uma solução bélica para enfrentar um problema de

saúde pública, com o pretexto de proteger a saúde, é um equívoco e

mostra o descompromisso do Estado com os direitos fundamentais dos

indivíduos. A própria Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece

que apenas de 10% a 13% das pessoas que consomem drogas se tornam

usuários problemáticos

3

.

Carl Hart, neurocientista e professor associado da Universidade de

Columbia tem se dedicado a estudar o uso de drogas e mostra em seu

livro,

High Price

(2013), dados semelhantes aos da ONU. “Research shows

that such issues affect only 10-25 percent of those who try even the most

stigmatized drugs, like heroin and crack”

4

.

1 "Direitos Humanos, laço social e drogas: por uma política solidária com o sofrimento humano". Maria Lucia Karam.

http://www.leapbrasil.com.br/media/uploads/texto/36_Direitos%20Humanos%20e%20drogas%20-%20CFP-BSB.

pdf?1322168068. Acesso em 11.01.2014.

2 "

U.S. Vulnerabilities to Money Laundering, Drugs, and Terrorist Financing: HSBC Case History"

-

http://www.hsgac

.

senate.gov/subcommittees/investigations/hearings/us-vulnerabilities-to-money-laundering-drugs-and-terrorist-

-financing-hsbc-case-history

&

http://www.levin.senate.gov/download/?id=90fe8998-dfc4-4a8c-90ed-704bc-

ce990d4: Acesso em 07.12.2013, 17:52.

3 Relatório do Secretariado para a 56ª Sessão da Comissão de Drogas Narcóticas (CND), em março de 2013.

4

HIGH PRICE

"

A Neuroscientist’s Journey of Self-Discovery That Challenges Everything You Know About Drugs and

Society".

Author: Carl Hart Publisher: Harper Number of pages: 335 p. (Pagina 13)