

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 570- 586, jan - fev. 2015
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Ao contrário do esforço da imprensa emMinas - mesmo que pontu-
al -, até os anos 1950, as críticas ao modelo de internação adotado em São
Paulo não tiveram espaço nos veículos locais, apenas na imprensa carioca.
Uma exceção encontrada por Gorgulho foi uma série de seis reportagens
publicadas pela
Folha da Manhã
em 1949, intitulada “O problema da rea-
daptação social dos egressos dos leprosários”. A série, assinada por Lucas
d’Ávila e ilustrada por Waldemar Cordeiro, “erammatérias fora do comum
por causa do tom humanitário, tratando da rejeição aos hansenianos e da
falta de moradia e de emprego”
19
.
Da mesma maneira que ocorreu no Japão, a defesa da po-
lítica de internação compulsória ou a omissão sobre os pro-
blemas vividos pelos doentes nos asilos, principalmente entre
1933 e 1945, ajudou a manter o status quo do sanitarismo
de São Paulo, que buscava manter a sociedade sã à custa da
supressão da liberdade dos doentes (...)
Mesmo em períodos de grande agitação nos “leprosários”,
principalmente nos anos de 1945 e 1946, em que houve re-
voltas e protestos, os jornais estudados se omitiram sobre o
tema (...)
A atividade jornalística, que deveria cumprir um papel de
fiscalizador do poder público e das instituições, acabou por
se eximir de denunciar os problemas dos hansenianos e os
abusos que vinham sofrendo pelo temido DPL. Já no final do
isolamento compulsório, na década de 1960, esta pesquisa
revela que os jornalistas negligenciaram a cobertura sobre
a mudança na política profilática, deixando de investigar os
novos problemas que viriam com a libertação dos doentes.
Tanto na década de 1940, em pleno auge da política de iso-
lamento, quanto em meados dos anos 1960, no ocaso dessa
estratégia profilática, a amostra do corpus aponta para uma
falta de motivação dos jornais para incluir o tema “lepra” e
seus problemas na agenda de pautas
20
.
19 Dissertação: “Isolamento compulsório de hansenianos: o papel dos jornais paulistas na manutenção do degredo
(1933-1967), p. 11 - Guilherme Gorgulho Braz. Orientadora: Profª. Drª. Germana Barata - Data defesa: 17/06/2013.
20
Idem
, p. 160.