Background Image
Previous Page  575 / 590 Next Page
Basic version Information
Show Menu
Previous Page 575 / 590 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 570 - 586, jan - fev. 2015

575

A mídia, por sua vez, enquanto maior fonte de informação,

possui um papel significativo na determinação do medo do

crime (Hale, 1996; Smith, 1985, 1986) como um tipo de viti-

mização indireta. A mídia, muitas vezes, sensacionaliza, dra-

matiza (Smith, 1985, 1986)e amplia (Pidgeon et al., 2003) as

ocorrências criminais, além de valorizar os crimes mais sé-

rios e commaior comoção social em detrimento dos de maior

incidência. (Borges, 2011)

Como relatei em “A (Ir)responsabilidade da imprensa na constru-

ção da culpa, da sensação de segurança e do medo”

11

, neste trabalho o

pesquisador coligou acumulações que geram crenças que identificam os

estímulos e acionam os sentimentos de insegurança e medo nas pessoas.

Por essa perspectiva, o medo do crime não é construído socialmente, mas

é uma reação a um tipo de construção social classificada como Crenças de

Perigos. “Além dos fatores sociológicos, o Modelo de Crenças de Perigo

também utiliza fatores da psicologia social, como a atratividade, o nível de

autossegurança e autoconfiança, o sentimento de controle em relação ao

crime e o espaço criminalizado (Van der Wurff 

et al

., 1989; Farral

et al.

,

2000,

apud

Borges, 2011)

A ideia de que o problema maior estaria localizado no Rio de Ja-

neiro e em São Paulo é uma das falácias mais propagadas. Esta falsa ideia

é propulsora dos ilegais e imorais recolhimentos e internações forçadas

de pessoas em situação de rua nessas capitais. Contra isso, o estudo de-

monstra que a maior quantidade de usuários de crack no Brasil está nas

capitais da região nordeste (cerca de 150 mil pessoas), inclusive no que

diz respeito a crianças e adolescentes

12

Também ao contrário do que tenta perpetuar este senso comum

e infundado, o uso do crack não é causa de mortes imediatas: o tempo

médio de uso constatado nas capitais foi de quase oito anos (91 meses) e,

nos demais municípios, de quase cinco anos (59 meses). 

Não obstante, o estudo demonstra ainda que tal discurso e as cam-

panhas e programas governamentais (a exemplo, “Crack, é preciso ven-

11 ROSA, M. C. O. . "A (Ir)responsabilidade da imprensa na construção da culpa, da sensação de segurança e do

medo".

In:

BIZZOTTO, Alexandre ; SILVA, Denival Francisco da. (Org.).

Sistema Punitivo: O neoliberalismo e a cultura

do medo

. 1 ed. Goiânia: Kelps, 2012, v. 1, p. 83-92.

12 Estudos da Fiocruz sobre uso de crack no Brasil:

http://www.leapbrasil.com.br/noticias/

informes?ano=2013&i=183&mes=9 Acesso em 07.12.13, 02:07.