

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 570 - 586, jan - fev. 2015
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excesso de cadáveres e o mercado encolheu, os corpos foram decompos-
tos em ácido, no pátio da Colônia, diante dos pacientes, para que as ossa-
das pudessem ser comercializadas.
Até 1994, havia celas no hospital. Hoje, o lugar atende várias espe-
cialidades médicas. Na área psiquiátrica ainda estão 160 pessoas rema-
nescentes da antiga Colônia.
Por ocasião do lançamento do livro, Arbex foi entrevistada pela
Fo-
lha de S. Paulo
.
A jornalista diz que o que mais a chocou foi constatar que “o
país desconhecia uma de suas piores tragédias”. Para ela, o
silêncio de décadas ocorreu porque os internos “eram indese-
jados sociais, e existe uma teoria de limpeza social que vigora
até hoje”. Na sua visão, a situação em prisões e em outros
locais ainda reflete essa “invisibilidade social”. “O modelo da
internação compulsória não seria uma reedição desses abu-
sos sob a forma de política pública? A sociedade precisa dis-
cutir essas questões.”
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O questionamento da jornalista é pertinente àmedida que se percebe,
ao longo da história, uma constatação empírica da repetição de situações,
constatada por ela e por Guilherme Gorgulho Braz, reiterada por Foucault.
Na Idade Média, o leproso era alguém que, logo que desco-
berto, era expulso do espaço comum, posto fora dos muros
da cidade, exilado em um lugar confuso onde ia misturar sua
lepra à lepra dos outros. O mecanismo de exclusão era o me-
canismo do exílio, da purificação do espaço urbano. Medi-
calizar alguém era mandá-lo para fora e, por conseguinte,
purificar os outros. A medicina era uma medicina de exclusão
(FOUCAULT, 1996, p.88)
18
.
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http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/08/1320727-livro-holocausto-brasileiro-relata-horrores-de-hos-picio-mineiro.shtm. Acesso em 07.12.2013, 04:38
18 FOUCAULT, Michel.
Microfísica do Poder
. 12. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1996.