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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 516 - 525, jan - fev. 2015

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A desmedida influência da mídia sobrepõe-se, não raro, a poderes

constituídos (aí incluído o Judiciário) e a esferas tradicionais de formação

de valores (família, escola, universidade, igreja, etc.). Trata-se de impor,

pelo consentimento social, critérios exclusivos para a escolha e a aborda-

gem de temas, o que equivale a determinar o que deve ser incorporado,

destacado, subestimado ou ocultado nas agendas informativas e nos no-

ticiários. Do mesmo modo, a mídia difunde juízos de valor e sentenças

sobre fatos e acontecimentos, como se estivesse autorizada a funcionar

como uma espécie de tribunal, sem nenhuma legitimidade para isso. Sua

intenção, assumida, mas não declarada, é disseminar conteúdos, ideias e

princípios que ajudem a organizar e a unificar a opinião pública em torno

de determinadas visões de mundo (via de regra, visões conservadoras e

sintonizadas com o

status quo

).

Esse processo, historicamente longo, de conformação do imaginá-

rio social pela mídia também se aprofundou pela ausência ou inércia dos

poderes Legislativo e Executivo nas tarefas de regulação, notadamente

dos meios sob concessão pública (rádio e televisão) que lhes cabem ou

deveriam caber. Resulta daí que a construção do consenso em torno de

concepções tende a se associar ao que é noticiado, fixado e exibido nos

meios massivos, sem maiores limitações ou entraves.

Como o sistema midiático se estrutura para dominar

Quais são as características definidoras do sistema midiático hege-

mônico? Em primeiro lugar, evidencia capacidade de fixar sentidos e ideo-

logias, selecionando o que pode deve ser visto, lido e ouvido pelo conjun-

to dos cidadãos. Estamos diante de uma “estrutura piramidal”, segundo

Milton Santos: “No topo, ficam os que podem captar as informações,

orientá-las a um centro coletor, que as seleciona, organiza e redistribui

em função do interesse próprio. Para os demais, não há, praticamente, ca-

minho de ida e volta. São apenas receptores, sobretudo os menos capazes

de decifrar os sinais e os códigos com que a mídia trabalha.”

2

A mídia elege os atores sociais, analistas, comentaristas e especia-

listas que podem opinar em seus espaços e programações.Na maior parte

2 Milton Santos.

O espaço do cidadão

. São Paulo, Edusp, 2007, p. 155.