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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 488 - 506, jan - fev. 2015

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espaço público, pelo “agir comunicativo”, um discurso como

esse tende a impor um modelo de linguagem pretensamente

favorável à essa comunicação. Pretendendo falar em nome

da inteligibilidade, do bom senso, do senso comum ou da mo-

ral democrática, esse discurso tende, por esse mesmo motivo,

a descreditar tudo o que complica esse modelo, tende a suspei-

tar ou a reprimir aquilo que dobra, sobredetermina ou mesmo

questiona, na teoria ou na prática, essa ideia da linguagem. É

com esta preocupação, entre outras, que seria preciso estudar

certas normas retóricas que dominam a filosofia analítica ou o

que se chama em Frankfurt de a “pragmática transcendental”.

Esses modelos se confundem igualmente com poderes institu-

cionais que não estão confinados apenas à Inglaterra e à Ale-

manha

(DERRIDA, 1991, p. 54-56).

A exclusão de tudo aquilo que não permanece compatível com o

pretenso universalismo democrático do agir comunicativo não é visto

pelo próprio Habermas como uma violência e como uma tomada de po-

der cultural (sustentada em poderes institucionais). O agir comunicativo

depende de uma antropologia sustentada numa concepção de linguagem

transcendente que reivindique uma posição metasituada para que seu

projeto de reconciliação das concepções modernas seja possível. Dito de

outro modo, um pensamento que leve em consideração o rastro e a dife-

rença só pode ser considerado por Habermas como uma contradição per-

formativa (digno apenas da loucura ou do suicídio, conforma a citação que

destacamos anteriormente). Por não ser comportado pelo projeto político

pautado na ética da discussão, o problema do rastro e da alteridade é

excluído, como é característico dos modelos metafísicos, da cena públi-

ca, do espaço público ou do problema da linguagem. Mas Derrida lembra

que o rastro ainda sim resiste – tanto à visibilidade quanto a tais projetos

políticos -, oferecendo um motor de politização e de deslocamento das

polaridades metafísicas:

[...] em toda parte onde há [rastro] enquanto subtraído ou

em retiro relativamente à visibilidade, alguma coisa resiste

à publicidade política, ao

phainesthai

do espaço público. “Al-

guma coisa”, que não é nem uma coisa nem uma causa, se

apresenta no espaço público mas ao mesmo tempo subtrai-