Background Image
Previous Page  491 / 590 Next Page
Basic version Information
Show Menu
Previous Page 491 / 590 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 488 - 506, jan - fev. 2015

491

tipo hegeliano consistindo justamente em suspender as opo-

sições binárias do idealismo clássico, a resolver a contradição

em um terceiro termo que vem

aufheben

, negar suspenden-

do [relevant], idealizando, sublimando em uma interioridade

anamnésica, internando a diferença em uma presença a si

(DERRIDA, 1972c, p. 59).

Habermas como pensador da legitimação do universal

Em seu texto

O perdão, a verdade, a reconciliação: qual gênero?

(DERRIDA, 2005), Derrida novamente aponta para a importância da ideia

de reconciliação na teoria hegeliana do Espírito, sobretudo em

Filosofia

da história

(HEGEL, 1965), texto bastante paradoxal no interior da obra

hegeliana. Nesse escrito, Hegel afirma que o gesto que oferece reconcilia-

ção, que “estende a mão” e se endereça ao outro configura a própria ma-

nifestação do Espírito, em sua manifestação

, enquanto ser-aí (Dasein),

como existente. A reconciliação seria aquilo mesmo que personifica ou

encarna o movimento do Espírito:

O espírito, o

Geist

tem lugar, dá lugar, faz acontecer nessa

fala e não noutro lugar. Seu ser-aí passa pela palavra de re-

conciliação endereçada ao outro. Isso ao menos significa que

antes dessa palavra decerto havia a guerra, a oposição ou

o ódio, a divisão, a dissociação ou separação, o sofrimento

e o traumatismo, as feridas (

die Wunden

). Por causa disso,

enquanto duraram as feridas, o espírito não estava aí, ainda

não aí, como tal, ainda não consciente e reunido em si mes-

mo, ainda não presente em si mesmo

(DERRIDA, 2005, p. 46).

O Espírito é aquele que supera as contradições, superando tudo

aquilo que fratura a experiência racional do que é efetivo. Pelo negativo,

o Espírito supera toda polarização e atinge o Absoluto enquanto síntese.

Deste modo, o Espírito deve se reconciliar igualmente com o mal, com

aquilo que ameaça toda via pacífica – ou, diríamos, toda “paz de Espírito”.

Pela afirmação e subordinação do mal, o negativo desaparece dando lugar

a uma reconciliação universal.