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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 488 - 506, jan - fev. 2015

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“clausura logocêntrica” (Derrida) – filosofar depois de Hegel

é fazê-lo de um outro lugar, de algum lugar a partir do qual

este fechamento está visível

(MELVILLE, 1986, p. 46).

O Espírito, como um grande reconciliador, é incapaz de reconhecer

uma multiplicidade de versões sem “original”. O Espírito hegeliano é a

própria

reivindicação de uma herança

– a herança da história da filosofia

e da cultura ocidental, em especial a herança da modernidade – em sua

injunção de unicidade

. O Espírito Absoluto seria a reconciliação final, a

síntese dialética que apresenta a tradição em sua totalidade e unicidade

reivindicada, inscrevendo o filósofo (Hegel) e sua filosofia na

herança

da

cultura ocidental e do pensamento moderno.

Ora, todo o esforço filosófico de Jacques Derrida consistirá, pre-

cisamente, em apontar a estrutura de divisão que compõe a metafísica

ocidental, indicando o ato de violência (ou de recalque) que a “reconci-

liação” pelo

logos

é responsável. Deste modo, a

desconstrução

derridia-

na é capaz de identificar o papel e a responsabilidade do “fora”, do não

reconciliado, do que foi excluído do

logos

, no “dentro”, isto é, na própria

manutenção da unidade reconciliada do

logos

. Diante de Hegel, em seu

livro Glas (DERRDA, 1975), Derrida evidencia um contínuo esforço em (re)

cortar, fender, dividir, separar os elementos que compõem o pensamento

hegeliano na tentativa de indicar a interdependência entre as polarida-

des metafísicas e o ato repressivo de reconciliação praticado nos textos

hegelianos como forma e esforço, em nome do Espírito, de clamar pela

herança da razão ocidental:

O papel da filosofia, nos termos do contínuo esforço crítico

de Derrida, é tanto o de apontar a (infra)estrutura de divi-

são quanto os atos de repressão praticados [performed] em

nome da reconciliação. [A leitura de Hegel feita em Glas] no-

meia como reconciliação o ato repressivo da filosofia [prati-

cado] em nome da ideologia ocidental avançada [...]

(SUSS-

MAN, 1998, p. 270).

Ou, conforme afirma Derrida, ele próprio:

É contra a reapropriação invessante desse trabalho do si-

mulacro em uma dialética de tipo hegeliana [...] que eu me

esforço em fazer alcançar a operação crítica, o idealismo de