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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 243 - 255, jan - fev. 2015

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A Democracia Interrompida e o

Crescimento do Estado Policial*

Marcelo Semer

Juiz de Direito em São Paulo e escritor. Mestre em

Direito Penal pela USP. Ex-presidente da Associação

Juízes para a Democracia. Autor de

Crime Impossí-

vel e a Proteção aos Bens Jurídicos

(Ed. Malheiros)

e do romance

Certas Canções

(Ed. 7 Letras), co-or-

ganizador de

Direitos Humanos: essência do Direito

do Trabalho

(Ed. LTr). Colunista no "Terra Magazine".

Responsável pelo "Blog Sem Juízo".

A democracia interrompida

A primeira observação que se pode fazer em um debate sobre mí-

dia e justiça é que, juntas, essas instituições compõem um quadro que

mostra, com maior nitidez, o quanto o processo de reconstrução da de-

mocracia ficou incompleto, ou melhor, interrompido.

Se algo, por assim dizer, os aproxima nessa relação quase sempre

tumultuada é justamente o fato de que os arquivos da redemocratização

não foram suficientemente instalados nestes programas.

Seja porque entendemos que o fim da censura e a consigna da li-

berdade de expressão seriam suficientes para uma ‘imprensa livre no es-

tado democrático’, seja porque, por temor ou ignorância, simplesmente

nos omitimos quanto à democratização do Poder Judiciário –esperando,

de uma forma pueril, que ele pudesse ser bafejado pelos ares da demo-

cracia sem alterações significativas na sua estrutura.

Assim, tivemos um direito de família que se democratizou com

a incorporação da igualdade e da ótica da solidariedade sobre o patri-

* Esse texto foi a base para a participação na Mesa “Mídia, Justiça e Produção das Subjetividades”, no Seminário

Resistência Democrática: Diálogos entre Política e Justiça, realizado na Escola da Magistratura do Estado do Rio de

Janeiro em 15/05/13.