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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 164 - 184, jan - fev. 2015

164

Ambiguidade,

Multidimensionalidade e

Disputas nas Manifestações

do Brasil

Carol Proner

Doutora em Direito, professora de Direito Internacio-

nal e Direitos Humanos da UFRJ, diretora do Master

en Derechos Humanos, Interculturalidad y Desarrollo

UPO-UNIA, Sevilha-ES.

I. A ambiguidade dos protestos multidimensionais

As manifestações que tomaram as ruas das grandes cidades brasi-

leiras a partir de junho de 2013 e que prometem se intensificar em 2014

ainda surpreendem e causam perplexidade. Os protestos ou Jornadas de

Junho, como têm sido chamados, surgiram para contestar aumentos nas

tarifas de transporte público nas principais cidades do país.

1

Embora te-

nham histórico muito anterior a 2013, as reivindicações por redução de

tarifas eclodiram no mês de junho, levando às ruas milhares de pessoas

que passaram a contestar também outras pautas.

Até os dias de hoje os reais objetivos das manifestações, os pro-

tagonistas e os sentidos dos protestos e seu futuro continuam sendo de

difícil análise. Não há consenso entre intelectuais, jornalistas e políticos

sobre se foi um momento pontual, até que ponto foi espontâneo, etc.,

mas há consenso sobre sua importância como prenúncio de transforma-

ção da sociedade brasileira.

Em um livro que discute a “geração AI-5” e os movimento de Maio

de 68 na França (

Duas revoluções intransitivas

, editora Argumento,

2004), Luciano Martins delineia algumas características recorrentes aos

1 Principais manifestações em São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Fortaleza, Manaus, Natal, Recife, Maceió, Curitiba,

Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre.