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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 17, n. 66, p. 9 - 15, set - dez. 2014

as penas previstas,

in abstrato

, para o tráfico ilícito de entorpecentes. Este

fato demonstra nítido desconhecimento acerca da lei penal por aqueles

que deveriam sabê-las de cor, por força do “ofício” que exercem. Portan-

to, a ignorância pode ser um dos elementos a explicar a alta incidência do

delito na sociedade brasileira.

Numa sociedade com mentalidade hierárquica, como no Brasil, é

comum que se busque o dinheiro com vistas a que se receba melhor tra-

tamento, vantagens e dividendos sociais

6

. A aquisição desse

status

é bus-

cada a qualquer custo. No caso do tráfico ilícito de drogas, considerada

a margem de lucro auferida, o resultado excepcional é obtido em muito

pouco espaço de tempo. Não há, por parte desses empreendedores, nor-

malmente muito jovens, a análise do risco do empreendimento. Como

também não há qualquer preocupação com o malefício que sua atividade

proporciona, num primeiro momento ao consumidor e, ao depois, aos

setores de saúde pública, que gastam milhões em recuperação de depen-

dentes, muitas vezes sem sucesso. E quando se trata de dependência quí-

mica, causada pela cocaína, a questão ganha colores ainda mais especiais.

Acerca da nocividade do cloridrato de cocaína, substância que es-

craviza, que aniquila o usuário e destroça sua família, amplamente difun-

dida tanto nos morros quanto nas várzeas, e cuja comercialização propor-

ciona lucros estratosféricos, há muito a ser dito.

A cocaína é substância bastante mais danosa à saúde do que outras

também ilícitas. Aliás, segundo sérios estudos médicos, a mais danosa

que há. E os especialistas são unânimes em reconhecer e apontar esta

realidade, sem divergências.

Os pesquisadores S.H. Cardoso e R.M.E. Sabbatini, da Universida-

de Estadual de Campinas, sobre o assunto, assinalam que “a cocaína é a

droga que mais rapidamente devasta o usuário. Bastam alguns meses ou

mesmo semanas para que ela cause emagrecimento profundo, insônia,

sangramento do nariz e corisa persistente, lesão da mucosa nasal e teci-

dos nasais, podendo inclusive causar perfuração do septo. Doses elevadas

consumidas regularmente também causam palidez, suor frio, desmaios,

convulsões e parada respiratória. No cérebro, a cocaína afeta especial-

mente as áreas motoras, produzindo agitação intensa. A ação da cocaína

no corpo é poderosa, porém breve, durando cerca de meia hora, já que a

droga é rapidamente metabolizada pelo organismo.”

7

6 Almeida, Carlos Alberto.

A Cabeça do Brasileiro

, p. 79.

7

Revista Cérebro & Mente

3(8), jan/mar 1999 – Universidade Estadual de Campinas - SP.