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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 63 - 75, jan - fev. 2015

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onde a “exceção” tende a virar a própria “regra”, a “anomia”, a “norma”, e

cuja incidência, pródiga, atinge numerosas regiões e seres humanos pelo

mundo (ARANTES, 2007 e AGAMBEN, 2003).

O combustível ideológico que justifica e aceita as mortes cometi-

das pela polícia, como alerta Vera Malaguti Batista, denota uma transição

“da crítica da truculência e da militarização da segurança pública à sua na-

turalização, e agora, ao aplauso, adesão subjetiva à barbárie (MALAGUTI

BATISTA, 2011: 8). Nisso corrobora o apoio midiático. Nessa esteira, como

informa Nilo Batista, “há a executivização de agências comunicacionais do

sistema penal, quer dizer, da circunstância nova de passar a mídia a exercer

funções características das agências executivas do sistema penal” (BATISTA,

2002: 405), uma vez que constrói a realidade, estabelece juízos de valor,

estigmatiza, julga e condena, muitas vezes, à pena de morte informal. Afi-

nal, os impérios midiático-empresariais são fabricantes de dramatizações

sensacionalistas da violência, capazes de promover interpelações da socie-

dade na sua “pulsão de morte”. E, indubitavelmente, na construção da sub-

jetividade punitiva, no clamor punitivo, autodestrutivo, que esses impérios

encontram sustentáculos ideológicos privilegiados (COIMBRA, 2001).

Desenha-se um quadro denso e capilarizado de violência social,

em um contexto global, de uma crise estrutural, cujas dimensões atin-

gem categorias básicas da forma de socialização (BRITO, 2010). Em meio

à vulnerabilidade do tecido social é importante sublinhar o proeminente

ativismo do Estado, na gestão da barbárie (MENEGAT, 2003), que adquire

contornos cada vez mais coercitivos, que extravasam na violência institu-

cional. Desse modo, as contradições e conflitos sociais enquadram-se em

um processo que apela, progressivamente, para expedientes belicistas,

ou seja, para uma verdadeira epidemia da guerra (HOBSBAWM, 2007),

que embala, no ritmo da morte, o Rio de Janeiro.

Referências Bibliográficas

AGAMBEN, Giorgio.

Estado de exceção

. São Paulo: Boitempo, 2003.

Anuário Brasileiro de Segurança Pública

. Ano 7, 2013. Disponível em:

http://www.midianews.com.br//storage/webdisco/2014/03/03/outros/34

3168dc26c081905ba5cd7b640e8a62.pdf . Acesso em: Novembro de 2013.