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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 376 - 377, jan - fev. 2015

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Máquina de Produzir Fascistas

Marcia Tiburi

Doutora e Mestre em Filosofia

Origem e transmissão do ódio

Diante dos discursos de ódio que, de tempos em tempos, assumem

expressão social, aqueles que não partilham do mesmo afeto, colocam-se

a pergunta acerca de sua origem. Chamamos de ódio o afeto que se ex-

pressa como intolerância, violência projetiva ou, no extremo, declaração

de morte ao outro. Pensamos que alguém – um Hitler qualquer - aciona o

botão do ódio que liga a máquina de produzir fascistas à qual a sociedade

está condenada. Esta máquina é a engrenagem organizada, uma espécie

de dispositivo, que se utiliza do afeto odiento na orquestração do delírio

coletivo ao qual a sociedade mesma é rebaixada. Assim se consegue a

aniquilação da sociedade, do senso do social que poderia acordar o pró-

prio fascista do ódio delirante no qual ele foi envolvido como indivíduo,

acreditando que neste afeto está a verdade de sua experiência.

Podemos definir o ódio como uma emoção. Como algo passional.

Daí a impressão, no âmbito de suas manifestações, de que ele seja um afe-

to primitivo e não cultural, que seja selvagem e não civilizado. A expressão

do ódio parece, para muitos, a irrupção de algo irracional no seio de uma

sociedade razoável. Por isso, tendemos a vê-lo como algo de arcaico. No

entanto, se o ódio irrompe no seio da sociedade civilizada é porque, de

algum modo, ele é parte dessa sociedade.

Afeto contagioso

A pergunta pela origem do ódio não pode ser respondida senão

pelo recurso ao círculo vicioso que explica o surgimento de qualquer afe-

to: é o sentimento experimentado que gera o que é sentido. Isso quer