

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, p. 61-77, Setembro/Dezembro 2017
73
Como as sociedades em rede não encontram fronteiras, tampouco o
terrorismo as conhecem. Assim destaca o já citado BRANT
29
:
Rapidamente, com o desenvolvimento dos meios de comuni-
cações, a abertura da agenda internacional, o surgimento de
novos atores e canais de interação, além do acirramento de
uma interdependência complexa,
o terrorismo internacio-
nal evolui para um terrorismo transnacional, com novas
e complexas características e desafios.
A ação terrorista se
desvincula da subordinação estatal e sem negar sua conotação
política econômica e social encontra apoio na mobilização
identitária enfatizando menos a ideologia que os valores tradi-
cionais opostos à modernidade ocidental. (Grifou-se)
Diante desse quadro, fica difícil não responder positivamente à in-
dagação formulada no capítulo anterior. Sim, as redes sociais têm sido
utilizadas como terreno fértil para a prática do terrorismo, seja para: disse-
minação das suas bandeiras, apresentação de seus resultados ou conquista
de novos adeptos.
Pode-se afirmar, até sem medo de errar, que mais do que surfistas da
grande rede, os grupos terroristas especializaram-se em seu uso, obtendo
êxitos destacados, como também se vê em STERN e BERGER
30
:
Os radicais de hoje em dia estão a exprimir a sua insatisfa-
ção com o
status quo
fazendo guerra, não amor. São mais
seduzidos por Thanatos do que por Eros. Eles ‘amam a morte
tanto quanto vocês [no Ocidente] amam a vida’, nas famosas
e muitas vezes repetidas palavras de Osama bin Laden. Neste
negro mundo novo,
as crianças são vistas a encenar deca-
pitações com os seus brinquedos, seduzidas pelo drama
familiar dos bons que matam os maus para salvarem o
mundo
. Há
dezenas de milhares de utilizadores do
Twit-
ter
a adotar a bandeira preta, e pessoas que praticamente nada
sabem acerca do Islão ou do Iraque são incutidas a emular as
decapitações brutais do EI. (Grifou-se)
29 BRANT,
op
.
cit
., p. 210.
30 STERN, Jessica, BERGER, J. M.,
op
.
cit
., p. 271.