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ARTIGOS

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Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 1, p. 143-152, 1º sem. 2018

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Nesse sentido, minha pergunta e convite ao leitor(a) é a de até que

ponto os jargões e os rituais ensaiados e bastante monótonos para os

contribuintes e

outsiders

existentes nas instituições do judiciário criam um

aparente faz de conta capaz de atenuar a pressão daquilo que está sub-

merso nas relações, nas comunicações e no dia a dia burocrático dessa ins-

tituição chamada Justiça? De forma proposital ou por conveniência, trazer

uma comunicação de fato transparente – como a que as leis do mercado

obrigam, cada vez mais, as empresas privadas a praticar – seria uma utopia

irrealizável e indigesta para a tradição dessa instituição? Quem quer, de

fato, diálogo?

Finalizando nossa conversa. Uma revolução está em curso.

A existência de jargões corporativos típicos, assim como rituais, ves-

tuário, cores, estandartes, carimbos e bandeiras, constroem o simbolis-

mo concreto e imaginário pelo qual uma determinada cultura corporativa

orienta e alimenta seus membros, bem como consolida e reforça sua iden-

tidade. As organizações humanas podem ter traços comuns entre si, mas é

nas burocracias que encontramos determinadas características repetidas

nas suas formas de atuação.

O fato é que dominar a linguagem de uma instituição – seus jargões

corporativos e rituais de relacionamento entre seus pares e seus diferen-

tes interlocutores – facilita aos participantes compreender o

modus ope-

randi

da organização. Quem desvenda os significados desvenda também

os labirintos sutis das relações de poder, dos fluxos de cumprimento de

ordens e a obtenção de privilégios e recompensas. Os jargões corporativos

servem como uma defesa aos indivíduos externos, de fora da organização.

Afinal, o sentido maior de um grupo ao se associar é com certeza

compartilhar valores homogêneos e evitar pluralidades e dissidentes (es-

tes sempre perigosos ao chamado

esprit de corps)

. Ao orientar-se por um

linguajar específico com jargões próprios, representações e sistemas de

classificação agrupados de tal forma a permitir que esse mesmo grupo per-

petue sua capacidade de poder exercido de forma simbólica perante os

não membros.