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ARTIGOS
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Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 1, p. 143-152, 1º sem. 2018
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pode ser substituída por sua versão em português, “com a devida vênia”
(com a devida permissão), ambas utilizadas para reforçar o respeito de
um contra-argumento, muito comum nos julgamentos. Diversos outros
exemplos podem ser citados neste verdadeiro sistema planetário do ju-
ridiquês em suas expressões latinas:
ab ovo
(desde o começo);
in dubio
pro reu
(na dúvida, pelo réu);
habeas corpus
(que significa “que tenhas o
corpo”, para proteger a liberdade de locomoção de um cidadão) e ainda
outras expressões como
legem habemus, animus furandi, erga omnes
etc.
Além, é claro, do juridiquês na língua portuguesa: corpo de delito, cri-
me hediondo, juiz togado, decisão monocrática, intimação, revel e por aí
vamos... Ou seja, em Roma, como os romanos. Cada instituição sempre
possuirá códigos próprios, nem sempre inteligíveis para as pessoas de
fora desse grupo. Lembrando sempre que as posturas corporais, os in-
terditos e os silêncios também fazem parte do arcabouço simbólico das
organizações.
Qual é o sentido desse linguajar, dessa simbologia? Reforçar o senti-
mento de pertencer e as práticas e os discursos permitidos, principalmen-
te. Reforçar vínculos, apontar para a união de todos como um atributo
valioso da cultura, da defesa da imagem e da reputação da instituição. E
claro, nessa linha de raciocínio, defender a marca para a qual trabalham ao
se sentirem parte dessa organização, dessa família, dessa tribo, do clube,
do povo ao qual pertencem.
Ao longo dos anos trabalhando como gestor de projetos de comu-
nicação junto a grandes organizações das áreas de petróleo, gás, minera-
ção, cosmética, alimentos e educação superior entre outras, pude perce-
ber que, muito mais do que a informação distribuída ou os comunicados
formais realizados, aquilo que não é dito - o silêncio - também comunica
de forma patente a realidade e o contexto no qual atuam os membros das
organizações. Os silêncios e os interditos reforçam o jeito de ser das orga-
nizações numa proporção muito maior que aquilo que é comunicado de
forma transparente. A imagem da ponta aparente de um iceberg flutuan-
do no mar, cuja dimensão submersa é muito maior, nos ilustra de forma
clara a força oculta dessa característica organizacional.