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Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro



“O amor como revolução” é tema de live da EMERJ


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“Diante dessa fragilidade exposta por um vírus microscópico, acredito que podemos ter uma postura mais humilde diante da vida, assim como ter mais generosidade”. A afirmação é do pastor, escritor, ator e poeta Henrique Vieira, que participou, na última quinta-feira, dia 16, do “Bate-papo com o diretor” no Instagram @emerjoficial.


Como mediador da conversa, o diretor-geral da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ), desembargador André Andrade, iniciou o encontro destacando a importância do amor nos tempos atuais.


“Hoje, vamos falar sobre algo que precisamos muito nos dias atuais, que é o amor. Vivemos um período de tanto ódio, com tantas mensagens de raiva que vemos nas redes sociais e que acompanhamos pela mídia. É um tema muito importante em um período com tantos tipos de preconceito. Então precisamos falar do amor como solução; o amor como caminho”, disse.


“A expectativa de vida das pessoas transexuais é de 35 anos, e isso é uma expectativa de vida de 200 anos atrás, algo absurdo. A igreja continua a se escandalizar com as relações homoafetivas, considerando um pecado; alguns até falam da ‘cura gay’. Gostaria que você falasse um pouco sobre essa questão que muitos cristãos têm a respeito das orientações sexuais”, solicitou o magistrado, que prontamente foi respondido:


“Há um núcleo que possui um poder político, econômico e midiático muito grande, e é um grupo perigoso, que não respeita a diversidade, que tem um projeto de poder e não tem compromisso com a laicidade e a democracia. Ali, vejo dispositivos autoritários e totalitários. Se formos ler, na própria Bíblia não dá para extrair um modelo único de família; há várias experiências diferentes, em contextos históricos diferentes. Quando falam, e eu realmente tenho conhecimento dessa estatística, que este é o país que mais mata transexuais e travestis no mundo, acho que isso deveria escandalizar a Igreja. Quando sabemos que a expectativa de vida é de 35 anos, isso deveria escandalizar. Saber que existem pessoas que entram em depressão e têm vontade de tirar a vida, pois nela foi colocado o rótulo de pecador, isso deveria escandalizar as igrejas”.


O desembargador André Andrade lembrou das manifestações públicas que rodaram o mundo, com ênfase nos Estados Unidos, que impulsionaram a expressão Black Lives Matter - Vidas Negras Importam. O magistrado destacou:


“O racismo está muito entranhado na sociedade. Muita gente que comete crime de ódio, como o racismo, muitas vezes o faz invocando o nome de Deus, e isso é uma deturpação da mensagem da Bíblia, que propaga o amor. Quando ouço a ideia de Cristo, para mim é só amor. Eu não entendo como alguém pode se incomodar tanto com a sexualidade e cor da pele do outro; isso é o contrário da mensagem cristã. Gosto muito da ideia de que não basta não sermos racistas, precisamos ser antirracistas”, disse. O pastor Henrique Vieira completou: “O racismo é o crime visível que se torna invisível. Ele é tão absurdo, que se torna comum. É um crime que não parece mais crime. É necessário mexer na política, no Direito, na educação e nas igrejas. Precisamos de transformações individuais e coletivas para combater o racismo”.


“Amar o opressor é possível?”, perguntou o magistrado. “No final do seu livro, você fala algo que é difícil: encontrar a criança que tem dentro de cada um e resgatar o que há de puro dentro de nós. Será que esse é o caminho? Em vez de demonizar aquele de cuja mensagem não gostamos, tentar dar um pouco de amor e compreensão?”, perguntou o desembargador André Andrade, citando a obra “O amor como revolução”.


O pastor Henrique Vieira falou sobre a afirmação, explicando que amar o opressor não significa gostar dele, e sim evitar se igualar a ele.


“Há um potencial transformador na infância. Quando digo isso, não quero que seja interpretado como uma coisa despolitizante ou ingênua, pois a infância carrega a sabedoria e o poder de transformação, assim como quebra as lógicas de meritocracia e julgamento, nos abrindo para a imaginação e os sonhos. É algo que nos faz acreditar em mudar o mundo. Sem romantizar, mas tem algo na infância que é produtor de futuro, e acho isso precioso. Amar o inimigo não significa gostar dele, pois amor não é sentimento, e sim atitude. Eu posso sentir ódio da pessoa que faz mal, é um sentimento, mas em amor consciente, decidir eticamente não devolver o mal dela com outro mal. Amar o opressor não é gostar dele, mas dizer que se recusa a usar a arma dele para devolver o dano, pois isso igualaria”.


Confira outros trechos do bate-papo:



Neurite Óptica Bilateral: “Quando eu tinha 16 anos, em um momento muito legal da minha adolescência, lembro de ter conseguido uma bolsa integral para estudar, e isso tinha me deixado muito feliz, pois venho de uma família mais humilde. Minha mãe fazia um enorme esforço para conseguir me colocar em uma escola boa, privada, e eu acabei ganhando uma bolsa. Então, em um determinado período, muito repentinamente, comecei a ter uma baixa visual muito importante. Nas últimas provas da escola, eu já não conseguia mais ler, então os professores passaram a ler para mim. Eu estava perdendo progressivamente a visão. O fato é que minha vida virou e me vi não enxergando minha mãe; também não conseguia reconhecer meus amigos ou andar sozinho na rua. Ficava angustiado, pois tinha medo de perder mais ainda a visão e ficar completamente cego”.


Feminismo: “Na condição de homem, necessariamente sou atravessado por essa cultura machista e a reproduzo em algum nível. É um reconhecimento necessário. Nós, homens, precisamos aceitar esse desconforto, pois, diante de uma situação desconfortável, queremos nos livrar rapidamente para nos sentirmos bem, mas não temos o direito de nos sentirmos bem em uma sociedade que nos confere privilégios, vantagens, mecanismos de segurança e de poder por sermos homens. Esse desconforto não tem que nos fazer reagir no sentido de nos defender não; ele é o primeiro passo para a desconstrução de uma masculinidade violenta. O homem, em uma sociedade patriarcal, possui privilégios, e em alguma medida fui formado e educado para reproduzir minha condição de privilégios. Não sei se posso ser feminista, mas posso ser transformado pelo feminismo e me tornar um parceiro.


A transmissão do encontro pode ser acessada pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=2FHhGFbtu7M





17 de julho de 2020