

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 78, p. 227-252, Janeiro/Abril 2017
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no modo como essas pessoas eram compreendidas, quebrando assim o para-
digma da integração sob o prisma médico de deficiência, que buscava inserir
as PCD na sociedade sem a devida transformação desse ambiente, o que
acabava, por muitas vezes, expondo limitações dessas pessoas. Assim, ocorre
uma mudança social, que passa a promover o conceito de inclusão, baseado
no modelo social de deficiência e em princípios de aceitação e valorização de
diferenças, e potencialidades dos cidadãos, sendo PCD ou não.
Com o movimento de Inclusão, e não mais Integração, a sociedade
toma um caminho para se refazer em diferentes áreas: educação, mobilidade,
trabalho, lazer, esporte, para falar apenas das mais importantes e proporcio-
nar a todos os cidadãos iguais oportunidades para desenvolver como ser que
age, produz, questiona, se diverte, namora e ama, sem qualquer distinção.
Porém, a criação da modalidade desportiva paralímpica, não garante
que as PCD sempre vivenciem processos de inclusão social, conforme já
discutido sobre o entendimento de Marques (2016). Uma verdadeira inclusão
social de atletas com deficiência pressupõe a sua valorização simplesmente
como atletas, destacando seus feitos desportivos, como acontece com os de-
mais atletas, pois a igualdade só é alcançada quando há dispensa de certo
tratamento desigual. Retomando o ensinamento de Barroso (2010) sobre a
necessidade de se invocar os direitos fundamentais, “ao menos até que a so-
ciedade se torne tão evoluída que dispense ou ultrapasse tal conceito”, a dis-
pensa de que trata o autor é a mesma dispensa de certo tratamento desigual.
A verdadeira inclusão social através do desporto passa pela adequa-
ção de práticas e sentidos de modo a oportunizar vivências produtivas às
pessoas, independentemente de terem corpos de Apolo, Afrodite
ou não.
Pois, a inclusão social desejada através do desporto ocorre quando a socie-
dade compreende que um atleta merece ser valorizado como tal, portando
ou não deficiência. É preciso mudar o discurso, deixando o estigma do he-
rói que vence a deficiência para valorizar o atleta que vence a competição.
A partir desse pensamento, os jogos paralimpicos perdem o sentido
de existir. Observa-se que diante das desigualdades físicas insuperáveis entre
homens e mulheres, a solução dada foi criar competições distintas, a exem-
plo do futebol, judô, atletismo etc. inseridas nos jogos principais sem, con-
tudo, excluir as mulheres para um sub-evento. Logo, a mesma solução deve
ser empregada aos jogos paralimpicos, deslocando-os para dentro dos jogos
principais, extinguindo-se os Jogos Parapan-Americanos e Jogos Paralimpi-
cos, com isso avançando no sentido de igualdade entre os atletas.