

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 68, p. 60-79, mar. - mai. 2015
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3. RÁPIDAS PINCELADAS DO PROCESSO HISTÓRICO
Seria oportuno lembrarmos que o Estado Islâmico já existiu, em-
bora com contornos compatíveis com a fase histórica de sua existência.
Aliás, muito mais que um Estado Islâmico, um Império
10
.
Como nos lembra Mircea Eliade
11
, resumidamente, Maomé nasceu
em Meca entre 567 e 572. Casou-se com Khadija por volta de 595 tendo
dentre outros filhos, Fátima, a mais jovem que mais tarde vem a se casar
com Ali. Depois de alguma atividade espiritual passou a ter revelações
divinas. Encontrando alguma resistência em Meca acaba mudando-se
para Medina (Yathrib) em 622. Nesta oportunidade, afirma o historiador,
a estrutura teológica do Islã já estava praticamente finalizada, mas, foi em
Medina que Maomé revelou as regras do culto passando a liderá-lo de
modo efetivo. Seu comando era total, espiritual e real. Exercia ao mesmo
tempo a liderança militar nas incursões que fazia com seu exército em
busca de pilhagens e riquezas para a manutenção do Islã.
Nas palavras de Edward McNall Burns
12
, com a morte de Maomé
em 632, assumiu o poder Abu-Berk -seu sogro- transformado que foi no
primeiro califa (sucessor do profeta) daquela estrutura rudimentar e te-
ocrática de Estado e que tinha como fundamento a religião islâmica. A
unidade do povo islâmico, ou mulçumano, era considerada real, forman-
do nacionais unidos principalmente pelo vínculo cultural e pelo religioso.
Não obstante, duas linhagens merecem destaque: Sunitas e Xiitas. As di-
vergências foram muitas. A iniciar pela primeira sucessão de Maomé. Os
xiitas entendiam que o sucessor deveria ser Ali, casado com Fátima, a filha
mais jovem de Maomé e não o sogro deste, como na realidade foi escolhi-
do e empossado. Em 656 e nos anos seguintes travou-se entre estes dois
seguimentos sociais uma verdadeira guerra pelo califado.
Os Sunitas -continua o historiador- encontravam-se no poder com
a família Omíada. Os Xiitas depuseram o califa e elegeram Ali. Este aca-
bou sendo assassinado com a consequente retomada do califado pelos
Omíadas. Estes decidiram transferir a capital para Damasco. Em 750, no-
vamente os Xiitas tomaram o poder com a família dos Abássidas que, de
10 Cfr. BURNS, Edward Mc Nall
in
História da Civilização Ocidental
, Editora Globo, 1968, 2º. v., p. 297, o Império
Islâmico também foi chamado de Império Sarraceno, que era um termo de utilização confusa, mas que, durante
muito tempo, servia para designar ou identificar os àrabes e todos aqueles que eram adeptos da fé mulçumana.
11 ELIADE, Mircea,
in
História das Crenças e das Ideias Religiosas
, Editora Zahar, v. III, de Maomé à Idade das Re-
formas, p. 70 e segs.
12 BURNS, Edward Mc Nall
in
História da Civilização Ocidental
, Editora Globo, 1968, 2º. v., p. 301.