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Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 1, p. 9-11, 1º sem. 2018

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PREFÁCIO

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Prefácio

QUANTO MAIS AFETO, MAIS JUSTIÇA.

Se vivêssemos em uma sociedade mais humana, e menos preconcei-

tuosa, o debate sobre os novos direitos que emergem das novas famílias

não precisaria se constituir em tema de exposição, em um evento sobre

questões de gênero.

O depoimento eloquente de Letícia Lanz, psicanalista, publicado no

O Globo de 12/09/2017, no entanto, demonstra que estamos distantes do

desejável. Diz ela:

“Fiz a transição aos 50 anos, casada e depois de enfartar.

Continuo com a mesma esposa, tenho três filhos e três netos

– dos quais sou pai e avô, e não mãe e avó.

Não nasci no corpo errado, mas sim na sociedade errada.

Não sou homem, nem mulher, nem trans. Sou Letícia Lanz.

A construção de mim mesma.”

Letícia é contra o gênero enquanto sistema de separação e hierarqui-

zação das pessoas. Ela prossegue:

“Para a grande maioria, o órgão genital define o gênero e, até

dentre os transgêneros, acredita-se que se você fizer a cirur-

gia e virar 100% homem ou mulher vai se enquadrar. Não vai.

Esse é umdos motivos pelos quais eu luto tanto contra gênero:

porque o enquadramento de gênero é um princípio jurídico,

precisa constar no documento de identidade.

Paramudar de nome, temque entrar na Justiça, é uma tragédia.

Na sociedade, quem fere o dispositivo binário de gênero é

punido, pois é visto como delinquente ou doente.”