Revista Magistratus - Número 5 - Setembro 2018

35 2018 Revista Magistratus PERFIL A Revista Magistratus , em cada edi- ção, reserva um espaço para tra- zer o depoimento de um magis- trado cuja conduta e experiência possam servir de inspiração para outros, princi- palmente os mais jovens. São ou foram magistrados com uma história funcional que merece ser contada. Recentemente, deu-se o passamen- to do desembargador Estenio Cantarino Cardozo, meu pai. Refleti, despindo-me da condição de filho, com olhos de dire- tor-geral da Escola da Magistratura do Rio de Janeiro, e concluí que se vivo fosse, sem dúvida, sua história de luta e amor pela ma- gistratura mereceria registro neste espaço. E por que não fazê-lo agora? Um homem dinâmico, incentivador e íntegro. Assim era reconhecido pelos alu- nos e colegas magistrados. O desembarga- dor Estenio Cantarino Cardozo dedicou 37 anos de sua vida ao Poder Judiciário. Era defensor da classe, com uma história de luta e de amor pela magistratura. Estenio Cantarino foi um lutador numa época em que a magistratura não detinha a estatura e a independência que hoje tem, só adquiridas com a Constitui- ção de 1988. O espírito associativo e combativo sempre preponderou sobre qualquer ou- tra ambição, ainda que legítima. Nos idos da década de 1960, lá esta- va ele, todas as segundas-feiras, na reunião da antiga Associação dos Magistrados Fluminenses – AMF, quando se discutia sobre as reivindicações a serem feitas, melhorias, defesas de colegas e tudo mais que podia interessar à classe. Esse espírito de união, de luta e perseverança sempre o acompanhou e, quando houve a fusão das duas associações de representação, buscou trazer para cá. Em 1975, houve a fusão dos dois es- tados, o da Guanabara e o do Rio de Janei- ro. Para a magistratura fluminense, o início foi bem traumático. Eram duas carreiras que tiveram dificuldades de se unir. Acon- teceu uma luta intensa para que houvesse uma única carreira, e o desembargador Es- tenio esteve à frente dessa luta. Dedicou 37 anos de sua vida ao Poder Judiciário. Era defensor da classe, com uma história de luta e de amor pela magistratura ” ” “ Que sua trajetória íntegra, honesta e afetuosa sirva de exemplo para aqueles que buscam na magistratura um ideal de vida” Em 1988, com a entrada de grande número de juízes, hoje quase todos desem- bargadores, deu-se início ao movimento de unificação, inspirado por novos ares, pois, afinal, aquela novel magistratura não tinha vivenciado as lutas e agruras iniciais, que, àquela altura, já haviam passado no tem- po. Mais uma vez, o desembargador Es- tenio liderou o movimento de unificação, ao lado de outros, integrando a Comissão do Estatuto da AMAERJ em 1991. A nova associação – AMAERJ - resultou da fusão da AMF (Associação dos Magistrados Flu- minenses) com a AMARJ (Associação dos Magistrados do Rio de Janeiro). Em 1997, assumiu a presidência in- terina da Associação por três meses. Foi seu 1º tesoureiro, no biênio 1992-93, e vi- ce-presidente do Conselho Deliberativo e Fiscal, de 2010 a 2011. Dinâmico e incentivador, foi tam- bém professor universitário por longo tempo, admirado por seus alunos. Presidiu o Tribunal de Alçada Cri- minal, até que, por merecimento, chegou ao Tribunal de Justiça. Embora seu caminho funcional te- nha se concentrado na área criminal, seu primeiro órgão julgador foi uma câmara cível. Mas logo voltou à câmara criminal e terminou sua carreira como presidente da 7ª Câmara Criminal. Foi titular do Órgão Especial e apo- sentou-se em maio de 2001, quando com- pletou 70 anos. Deixou amigos e o carinho dos funcionários. Mas mesmo aposentado, não se afastava do Tribunal. Vinha com fre- quência ao meu gabinete. Dava-me conse- lhos de pai e de julgador. Preocupava-se em que se fizesse a melhor justiça. Passou para mim, seu filho, a lição da integridade, no que moldou, juntamente com seu carinho e afeto, a minha personalidade e vontade de ser sempre um magistrado melhor. Sua lembrança me acompanhará. Que sua trajetória íntegra, honesta e afe- tuosa sirva de exemplo para aqueles que buscam na magistratura um ideal de vida. • Por Ricardo Rodrigues Cardozo Desembargador do TJRJ e diretor-geral da EMERJ Uma homenagem póstuma ao desembargador Estenio Cantarino Cardozo

RkJQdWJsaXNoZXIy NTgyODMz