Revista Magistratus - Número 4 - Maio - 2018
Desembargadora Áurea Pimentel Pereira Vice-presidente do Fórum Permanente de Estudos Interdisciplinares da EMERJ U ma história de superação. Coragem, determinação e autoconfiança leva- ram uma jovem à carreira da magistratura numa época em que a toga era considerada privilégio dos homens. Em 1960, Áurea Pimentel Pereira tomou posse como juíza substituta da Justiça do Estado da Guanabara. Na década de 1970, foi juíza do Primeiro Tribunal de Alçada. Em 1984, já era desem- bargadora do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). Descendente de italianos, ela dedicou toda a vida à carreira. Atuou em Varas de Família, Cíveis, Criminais e de Acidentes de Trabalho. Foi a primeira mulher a presidir o antigo Tribunal do Júri. Aposentada desde 2000, a desembargadora Áurea continua se de- dicando ao Direito. Autora de sete livros e com um oitavo a caminho, ela não perde a fé no futuro do país. PERFIL M agistratus : Por que a decisão de se dedicar ao Direito? D esembargadora Á urea : Era o sonho da minha mãe, mas meu avô não permitiu que ela estudasse Direito. Desde criança, eu decidi que iria fazer o que minha mãe não pôde. Nunca pensei em outra carreira. Estudei na Universidade do Distrito Federal, onde conheci Maria Stella Villela Rodrigues. Passamos no mesmo concurso para juiz e chegamos ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Rio. M agistratus : Como a senhora foi recebida pelos juízes na época? D esembargadora Á urea : Existia muito preconceito por eu ser mulher. Na época, só havia uma juíza no Judiciário, na quinta Vara de Família do Distrito Federal, a Iete Bomil- car Passarela. Eu e Maria Stella enfrentamos muitos desafios, mas com a nossa atuação, a oposição e o preconceito foram desaparecendo. Depois que nós passamos no concurso para juiz, muitas outras mulheres seguiram nossos passos, e hoje a maioria dos juízes do Rio de Janeiro é mulher. M agistratus : A senhora atuou em Varas Criminais e no Primeiro e no Segundo Tribunais do Júri ainda muito jovem. Houve momentos em que se sentiu intimidada? D esembargadora Á urea : Eu fui ameaçada de morte umas duas ou três vezes, mas nunca me intimidei. Na época, meu motorista me conduzia com a arma no banco do carona. Mas nunca aconteceu nada. M agistratus : E qual era a característica mais marcante da magistrada Áurea Pimentel? D esembargadora Á urea : Eu sempre procurei reconhecer o direito dos outros a qualquer preço. Eu acredito que não se pode transigir com o direito de ninguém, em nome de coisa alguma. M agistratus : E como é o dia a dia da desembargadora depois da aposentadoria? D esembargadora Á urea : Eu me aposentei no ano 2000. Mas continuo atuante. Sou vice-presidente do Fórum Permanente de Estudos Interdisciplinares da Escola da Ma- gistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ). Sou autora de sete obras jurídicas e estou escrevendo o oitavo livro, com o psiquiatra Márcio Gekker, que já tem título: “Questões Mé- dicas, Soluções Jurídicas”. Escrevi muitos artigos e, hoje, tenho três artigos prontos para serem publicados: um sobre a família pós-modernidade, outro sobre o poder político do juiz e o ter- ceiro, sobre corrupção. M agistratus : Os artigos são sobre temas bem atuais. Como a senhora avalia a situação do Brasil hoje? D esembargadora Á urea : Ninguém poderia imaginar que existiria uma verdadeira avalanche de corrupção. Eu cos- tumo falar que a corrupção sistêmica assolou o país. Nós não imaginávamos que a Justiça teria que enfrentar um desafio des- ses. Mas eu acredito na capacidade da Justiça. Eu penso que agora tudo só depende da palavra da Justiça, que está numa evidência positiva, tomando as posições no momento certo. M agistratus : E o que a cidadã Áurea Pimentel espera para o futuro do Brasil? D esembargadora Á urea : Eu tenho muita fé no futuro do nosso país, principalmente porque a Justiça intervém nos momentos certos. A Justiça não está se intimidando.
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