Revista Magistratus - Número 3 - Dezembro 2017
4 Revista Magistratus 2017 T arso Brant nasceu em um corpo feminino, mas nunca se sentiu confortável nesse gênero. Durante anos, con- viveu com conflitos internos em busca do entendimen- to de quem ele era, de sua identidade. O mineiro, de 24 anos, apenas se aceitou como homem aos 21 anos. Ao nascer, foi re- gistrado com o nome de Tereza. Hoje ele prefere ser chamado de Tarso ou apenas de Tê. “Desde criança, não me adequava ao gênero biológico. No meu processo de aceitação, passei por vários estágios de fugas psicológicas. O fato de me ver obrigado a assumir uma condição (feminina) para não ser julgado pela sociedade fazia com que eu tivesse uma constante rejeição interna, dificultando meu proces- so de autoaceitação e amadurecimento”, contou Tarso. Histórias de pessoas que não se identificam com o gê- nero registrado na certidão de nascimento ganham cada vez mais espaço na sociedade, e Tarso Brant foi um dos nomes que contribuíram para dar notoriedade ao assunto, através dos veículos de comunicação. Foi Tarso que inspirou Glória Perez, autora da novela da TV Globo “A Força do Querer”, a escrever a história da personagem Ivana, que após intenso sofrimento de autoaceitação, revelou-se trans. E assim, o assunto ganhou ampla discussão em rede nacional. A novela mostrou a dificuldade no processo de identifica- ção, o preconceito e a violência a que são submetidos os transgê- neros, além do sofrimento psíquico, do tratamento para adequa- ção ao gênero, da rejeição pela família e amigos. Da ficção para a vida real, Tarso virou personagem dele mesmo. Seu papel na trama era esclarecer o processo de mu- dança de gênero da personagem Ivana, já que Tarso passou pela mesma questão na vida real. Tarso fala sobre a dificuldade do processo de transição: “Não foi nada fácil. Pelo contrário, a ansiedade é enorme. Além da mudança física com o surgimento de pelos e músculos, há também o lado emocional e psicológico”. Na opinião de Tarso, a novela retratou muito bem o dra- ma vivido pelas pessoas trans. Com muitas coisas em comum Questões de Gênero: O fato de me ver obrigado a assumir uma condição (feminina) para não ser julgado pela sociedade fazia com que eu tivesse uma constante rejeição interna, dificultando meu processo de autoaceitação e amadurecimento “ “ com a personagem Ivana, ele se identificou em algumas das ce- nas da novela: “O fato do desconforto ao se olhar no espelho. Antes de fazer a cirurgia para retirada dos seios, eu também cheguei a tapá-los com esparadrapos. Não gostava do meu cor- po e tinha a certeza de que queria mudar”, lembrou ele. Foto: Arquivo Pessoal Tarso a busca pela Identidade
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