Revista Magistratus - Número 3 - Dezembro 2017
16 Revista Magistratus 2017 INSTITUCIONAL Fórum Permanente de Estudos Interdisciplinares Lava Jato O Filme visto por seu diretor Cinema e Política O FórumPermanente de Estudos Interdisciplinares da EMERJ recebeu no dia 25 de outubro o cineastaMarceloAntunez, diretor de filmes de sucesso do cinema nacional, entre eles o longa “Polícia Federal: a Lei é paraTodos”, recorde de bilheteria deste ano entre os filmes brasileiros. Marcelo foi convidado pela EMERJ para falar da relação entre cinema, política e liberdade de expressão.O cineasta falou acerca da história do cinema mundial e nacional e ponderou que “o cinema sempre participou ativamente dos grandes debates da humanidade”. P ara Marcelo Antunez, o cinema é mais que um entretenimento, é uma autêntica experiência de vida, pois inicia no público um processo de imersão, de reflexão e de análise - documentais ou fictícias - que remetem à vida real. Marcelo contou que as artes e o Direito têm a mesma origem: a Grécia Antiga. Considerada a sétima arte por integrar todas as outras artes, o cineasta disse: “Justamente por ser a síntese de outras formas artísticas é que o cinema é um importante agente de mudança sociocultural”. Segundo ele, a comunicação pelo cinema é mais rela- cional do que informativa. O diretor do longa “Polícia Fede- ral: a Lei é para Todos” falou sobre a produção do filme, que ele define como um “thriller investigativo”, e rebateu as críticas quanto ao possível viés político do filme: “Não houve qualquer viés po- lítico. O longa não é partidário, o intuito foi produzir um cinema que provocasse a reflexão e falasse sobre um assunto vivo e pulsante na sociedade brasileira”. Desde a primeira fase de pesquisa até o filme ser lançado, foram um ano e oito meses de trabalho. O filme “Polícia Federal – a Lei é para todos” trata dos fatos ocorridos desde a deflagração da operação Lava Jato, em março de 2014, até março de 2016. Até o dia 25 de outubro o filme ti- nha atingido 1,5 milhão de pessoas, recorde de bilheteria do cinema nacional deste ano. A Revista Magistratus conversou com o cineasta. Saiba mais: C omo ocorreu o convite para fazer o filme e por que aceitou ? Quando o produtor Tomislav Blazic me convidou para fazer o filme, em dezembro de 2015, eu tinha acaba- do de lançar a comédia “Até que a sorte nos separe 3”. Achei o convite incrível, porque o gênero a que mais gosto de assistir nos cinemas é o thriller , mais até do que o filme de ação, porque o thril- ler tem também drama. Além disso, é um assunto super relevante, que cum- pre o que, na minha opinião, é a função do cinema: provocar reflexão. E isso é fundamental, pois estamos vivendo um momento crítico no país, potencial- mente transformador. E o cinema veio para provocar o debate. Então topei, e, em janeiro de 2016, comecei a me debruçar, junto com os roteiristas, em intensas pesquisas, analisando denún- cias, sentenças, provas públicas, depoi- mentos, delações. Assistimos a horas e horas de vídeos e estudamos inúmeros documentos, para tentar entender essa história - extremamente complexa. C omo trabalhou com o fato de não haver um fim para a trama ? Quando você começa a escrever um roteiro, não dá para ir mudando o final. Mas, no caso da Lava Jato, é a his- tória sendo escrita diariamente. Tive a oportunidade de poder falar, não de algo que já acabou, e sim de algo que está acontecendo no Brasil. O filme aborda a operação até março de 2016. Os críticos alegaram que não havia distanciamento histórico para ser contada a história, mas eu não concordo. Por exemplo, a história do mundo não acabou, a minha história não acabou, a história de ninguém aca- bou. Talvez para uma análise mais pro- funda eu precise de um distanciamento, mas não era essa a proposta do filme, e sim contar, através de uma determinada ótica – a dos investigadores – uma histó- ria que estava todos os dias nos jornais, principalmente naquela época. E mesmo sem um final , como tornou o filme atrativo ? Percebi que o frescor que eu pode- ria trazer ao filme era contar o pré-fato, como tudo começou. Contar do ponto de vista da investigação, antes de ir para a Justiça. Muita gente desconhecia que a Lava Jato foi iniciada de forma pequena, com uma investigação de doleiros, que, fortuitamente, esbarrou num esquema de
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