Revista Magistratus - Número 2 - Setembro 2017
15 2017 Revista Magistratus trato de uma política pública de combate que fracassou. O jovem, quando vai para a cadeia, custa dinheiro, quando sai, está com a vida destruída e, além disso, sua prisão não produz nenhum impacto no tráfico. Temos que buscar um caminho alternativo. Por isso, defendo a descri- minalização das drogas, começando pela maconha, mas com regras rígidas. Se não der certo, podemos recuar. Não há ver- gonha em voltar atrás. A vergonha é não tentar. O que eu posso garantir é que a política atual não dá certo.” V iolência e C orrupção “A sociedade brasileira tem duas aflições: violência e corrupção. Mas é ir- risório o número de presos por corrução. Nós somos um país que prende muito, a quarta população carcerária do mundo, mas prende mal. O Direito Penal brasilei- ro precisa passar por um processo curioso, que é endurecer no andar de cima e flexi- bilizar no andar de baixo. O Direito em um país não pode ir mudando de acordo com quem seja o réu. Um país em que o Direito muda de acordo com o réu não é um estado de Direito, é um estado de compadrio. O Direito tem que ser um. Juiz não tem amigo, juiz tem que fazer as coisas com correção, juiz não pode ter corrupto de estimação. Portanto, tem que aplicar o Direito independente de quem seja o réu.” I mpunidade “No Brasil a corrupção tem duas causas: a impunidade e um sistema po- lítico que fomenta a corrupção. Chegou a hora de uma certa mobilização cívica para acabar com essa cultura de gente que se acostumou a viver com dinheiro público, de gente que se acostumou a viver com o dinheiro desviado, dinheiro dos outros, dinheiro do povo brasileiro, dinheiro que não foi para a saúde, que não foi para a educação, que não foi para consertar estradas, dinheiro que não sal- vou vidas. Não penso que seja possível mudar o mundo com o Direito Penal. O mundo a gente muda com educação, com distribuição justa de renda e com debate público democrático de qualida- de, para buscar as soluções.” E sperança “Eu acho que a gente tem uma nova chance, aqui e agora, de fazer um novo país, com uma nova ética pública, com uma nova ética privada. Um dos meus slogans pessoais na vida é: não importa o que esteja acontecendo a sua volta, faça o melhor papel que puder. Eu ouvi, outro dia, do presidente de um cen- tro acadêmico de uma universidade do interior: ‘Eu não quero viver em outro país. Eu quero viver em outro Brasil.’ Eu também quero. Nós todos queremos.”
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