Revista da EMERJ - V.25 - n.1 - Janeiro/Abril - 2023

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 82-104, Jan.-Abr. 2023  98 Com Lorraine A. (15) não foi diferente. A adolescente che- gou ao acolhimento transferida de cidade, sob a justificativa de correr risco de vida por seu envolvimento com o tráfico local. Outras questões também atravessavam sua relação no cotidiano, como sua indefinição sexual e uma abordagem reativa violenta para com aqueles que dela discordassem, ocasionando sérias di- ficuldades no trato com os demais, muitas vezes expressa atra- vés da intimidação. Sua escolarização era muito baixa, configu- rando-a como analfabeta funcional. Essas peculiaridades custaram à adolescente uma identifi- cação negativa e um empenho muito menor quanto à sua inclu- são nos espaços institucionais. Sem uma mediação adequada ou um projeto que lhe chamasse a atenção e a envolvesse inclusiva- mente, Lorraine A. acabou por sair do abrigo, abandonar a esco- la e voltar para o tráfico – talvez o único locus onde se sentisse realmente incluída . Outra adolescente cooptada pelo tráfico e excluída do pro- cesso escolar é Sara S.(15). Acolhida depois de sobreviver ao “tribunal do tráfico” – durante uma disputa amorosa com outra adolescente, foi acu- sada de roubo e ferida pelo tráfico –, não conseguia manter vín- culos estáveis nem com a própria família. Tampouco a escola se apresentava atraente para ela, que buscava compensações e emo- ções fortes devido a uma fragilidade emocional. Por outro lado, o fato de estar sob risco de morte causava certa consternação nas instituições, que não souberam como conduzir de modo assertivo e envolvente uma intervenção mais inclusiva – enquanto as identificações de Sara S. eram com o tráfico, as idealizações construídas sobre ela a perce- biam como desinteressada e ausente. Essa situação não só esti- mulou sua marginalização, como culminou na sua evasão – do abrigo e da escola. Esses relatos exemplificam situações distintas nas quais a inclusão escolar tem influência direta para a concretização da in- clusão social. Isto é, de como pode potencializar e integrar os

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