Revista da EMERJ - V.25 - n.1 - Janeiro/Abril - 2023
R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 82-104, Jan.-Abr. 2023 94 mudando sua percepção de si mesma e empoderando-a de tal for- ma que seu desempenho escolar e as relações pessoais melhora- ram sensivelmente. A adolescente analfabeta funcional evoluiu a tal ponto que não só completou o Ensino Fundamental como pas- sou a se relacionar satisfatoriamente com todos os colegas. Nesse caso, a inclusão passou pela dinâmica corporal e das habilidades físicas. Tal movimento constituiu elemento-chave para o estabelecimento de uma ponte a ligar a performance es- portiva ao rendimento em sala de aula e o start necessário para promover uma socialização eficiente. Entretanto, apesar dos esforços inclusivos, nem sempre o sucesso é garantido nessas empreitadas. Nas instituições de aco- lhimento, é corriqueira a existência de intercorrências e dispu- tas quando suas crianças ou adolescentes são inseridos no es- paço escolar, sendo muito comum encontrarmos situações de estigmatização e rejeição para com esse público, especialmente quando apresentam desempenho ruim. Outro fator que impac- ta a inclusão social é o surgimento de idealizações derivadas de identificações positivas – essenciais para o estabelecimento de conexões interpessoais e a construção do processo inclusivo. A não ocorrência (ou uma construção negativa) de identificações e/ou idealizações com essas jovens compromete todo o processo inclusivo. Tal foi o caso com as adolescentes Kayllane S., Jennifer X., Lorraine A. e Sara S. Kayllane S. entrou no acolhimento aos 12 anos, após as difi- culdades de relacionamento com sua genitora tornarem-se insus- tentáveis. Fruto de uma relação ruim, desde sua gestação ela foi rejeitada pela mãe. Quando a genitora constituiu nova família, o trato entre mãe e filha piorou sensivelmente, a tal ponto que, à medida que a nova filha cresceu, o comportamento da mais velha involuiu. Ao tentar chamar a atenção, Kayllane S. passou gradativamente de pequenas atitudes inconvenientes a ações po- tencialmente perigosas. A resposta da família foi rejeitar ainda mais a menina, a qual era constantemente cobrada e comparada com a irmã mais nova. Essa conduta gerou uma verdadeira re-
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