Revista da EMERJ - V.25 - n.1 - Janeiro/Abril - 2023
R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 55-81, Jan.-Abr. 2023 60 A Conferência de Asilomar, realizada em 1975, foi um mo- mento histórico para o debate ético na pesquisa científica. Reuni- dos em balneário perto de Monterey, nos Estados Unidos, cientis- tas participaram de congresso internacional sobre recombinação de moléculas de DNA, convocados por Paul Berg, bioquímico, professor de importantes universidades e ganhador do Prêmio Nobel de Química, juntamente com Walter Gilbert e Frederick Sanger, em 1980. Berg, na liderança do comitê, convocou a conferência para construir um debate em torno da autorregulação dos riscos de engenharia genética. Pretendiam os cientistas dessa área do co- nhecimento antecipar a avaliação de riscos decorrentes das pes- quisas e utilização da biotecnologia. Da conferência, resultou uma moratória voluntária das pesquisas que envolviam DNA recombinantes até que fossem definidos protocolos de segurança confiáveis para os riscos de- correntes dessas pesquisas. Somente poderiam prosseguir as pesquisas com salvaguardas e seria criado um comitê consultivo para tratar permanentemente do assunto. A conferência de Asilomar não foi o primeiro encontro para essa discussão, mas é considerada a mais importante. No entanto, foi duramente criticada por ter sido realizada exclusiva- mente por cientistas, sem participação da sociedade, que não foi chamada para os debates. E a sociedade da época tinha motivos para se preocupar com a falta de diálogo com os cientistas por- que, nas décadas de 1960 e 1970, vários fatos preocupantes sobre pesquisas científicas haviam se tornado públicos. Em todos eles, as pesquisas científicas haviam sido conduzidas sem respeito a preceitos de ética e transparência (PORTAL TECTONIA, 2022), o que resultou em riscos para a população. A atenção da sociedade começava a se orientar para este problema: a necessidade de ética e transparência nas pesquisas científicas e a ampliação da respon- sabilidade dos pesquisadores e dos financiadores de pesquisas. Hans Jonas assinala que a ciência vive do retorno que sua aplicação técnica lhe confere, ou seja, já não se faz ciência por in-
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