Revista da EMERJ - V.25 - n.1 - Janeiro/Abril - 2023
R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 130-146, Jan.-Abr. 2023 144 radores de rua; na patologização do crime, muitas vezes; e, se investigarmos bem, quem sabe essa mentalidade não se escon- de por trás de valores considerados politicamente corretos como “medidas educativas” e “ressocialização”? À luz dessas reflexões, é preciso bastante resguardo ao pensarmos questões como a ressocialização e o fazer do perito no âmbito jurídico, para que possamos ultrapassar o olhar estig- matizante, que, não raramente, o direito acaba tendo até mesmo na contemporaneidade. É preciso nos desvincularmos dos valo- res que centralizam o trabalho como cerne da dignidade humana, principalmente quando isso gera uma percepção depreciativa de tudo o que não é trabalho, chegando ao ponto de patologizar a ociosidade, enquanto fechamos nossos olhos para os excessos que nossa sociedade comete a bem de manter a primazia do ofício. Sendo assim, a preocupação não recai somente neste estig- ma que deslegitima o que desacelera, mas, sobretudo, sobre as consequências que essa visão é capaz de provocar para a saúde do indivíduo e da civilização. Em 2017, a Organização Mundial de Saúde (OMS) constatou mais de 300 milhões de pessoas afeta- das por depressão em todo o mundo, considerando, assim, a de- pressão como a principal causa de adoecimento no globo. Os altos índices apontados pela OMS são um grave alarme, um chamado para que venhamos a repensar as nossas próprias diretrizes. É por esse motivo que as questões apresentadas no pre- sente texto, em última instância, versam sobre a própria vida e sobre uma das questões existenciais basilares que desencadea- ram, inclusive, toda a história da filosofia e das ciências: “qual é o sentido da existência?”. Isso porque falar sobre o lugar do ócio e do trabalho dentro da sociedade é falar sobre os propósitos de nossa existência; é falar sobre a própria construção de nossa subjetividade. Podemos perceber que esta está intrinsecamente conectada ao modelo social hipermoderno desde o check list sob o qual estruturamos a nossa rotina diária e até mesmo sobre uma das perguntas mais sugestivas que todos ouvem desde peque- nos: “O que você vai ser quando crescer?”. A inocente questão
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