Revista da EMERJ - V.25 - n.1 - Janeiro/Abril - 2023

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 130-146, Jan.-Abr. 2023  138 a massificação de um saber que lhe é útil. O saber funciona como um dispositivo estratégico ligado ao poder. Logo, podemos afir- mar que os discursos que permeiam a prática laboral estão estrei- tamente ligados ao poder disciplinar que opera na sociedade, em especial no modo de funcionamento fabril. O filósofo ainda distingue claramente as técnicas discipli- nares da forma de poder relativa à escravidão quando afirma: “Diferentes da escravidão, pois não se fundamentam numa re- lação de apropriação dos corpos; é até a elegância da disciplina dispensar essa relação custosa e violenta obtendo efeitos de uti- lidade pelo menos igualmente grandes.” (2002, p.118). Assim, a escravidão ter caído em desuso teria sido, para Foucault, muito mais uma transformação nas tecnologias de poder do que um ato de humanização social, embora pode-se notar que traga também outras vantagens para quem explora. O mundo nunca deixou de lado as ideias que mantiveram a escravidão de forma generaliza- da e oficial, apenas passou por um refinamento da prática, encon- trando formas mais eficientes e discretas de controle. Dentre elas, as técnicas da disciplina que multiplicam a eficiência produtiva em detrimento da qualidade de existência dos sujeitos objetifica- dos. A generalização de um discurso disciplinar é uma delas. E é por esse motivo que a incorporação do trabalho como centro da existência teve papel importante para manter esse novo modo de produção. O trabalho se tornou o pilar moral da sociedade, a linha que dicotomiza o mundo entre os dignos e indignos. Portanto, se com Foucault vimos que as técnicas disciplina- res tornaram possíveis a noção de indivíduo moderno e o trato de seu corpo por via da serialização do trabalho, vemos, com o exemplo de De Masi, que uma das consequências é a sujeição dos indivíduos à condição de “não-mais-sujeitos”; não-mais-su- jeitos por, abrindo mão da própria qualidade de vida para exe- cutar exaustivamente tarefas apropriadas para um maquinário, recaem no risco perpétuo – como Chaplin já mostrava – da to- tal redução do homem à máquina. Sobre o que, realmente, Fou- cault já abria margem para reflexão, uma vez que a elevação da

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