Revista da EMERJ - V.25 - n.1 - Janeiro/Abril - 2023

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 130-146, Jan.-Abr. 2023  137 dos corpos . E Foucault (2002) traz à baila justamente a noção de corpo, pois o ser humano passa a não mais ser enxergado ape- nas como um indivíduo, mas sobretudo como um objeto útil à produtividade: uma máquina orgânica domesticada por técnicas muito específicas de poder, a saber: a disciplina – também cha- mada por Foucault (2002) de anátomo-política. Em Vigiar e Punir , Foucault (2002) afirma ser a nossa socie- dade moderna o que ele chama de “disciplinar”. A disciplina, para o autor, seria o emprego de técnicas que permitam o con- trole minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes imponham uma relação de do- cilidade. Ou seja, uma forma de poder sem que se tenha posse daquele ser corpo objetificável. Esse método disciplinar já existi- ra há muito – nos conventos, nos exércitos e nas oficinas –, mas apenas nos séculos XVII e XVIII se tornaram fórmulas gerais de dominação (FOUCAULT, 2002, 118). De modo geral, dentre as técnicas utilizadas pela disciplina, se encontram a distribuição dos indivíduos no espaço e o controle das atividades, como o horário e o ritmo do ato, por exemplo. “A disciplina é a anato- mia política do detalhe”, afirma o autor (FOUCAULT, 2002, p. 120). E isso pelo motivo de que cada detalhe assume um papel de grande importância para que se atinja o máximo de eficiência possível. Assim, o controle disciplinar incide minuciosamente sobre a organização espaço-temporal, sobre o corpo e, em nível de discurso, sobre a própria interioridade do ser. Sob tais considerações, não se pode afirmar que a men- talidade que envolve o estigma trabalho/ociosidade seja intei- ramente nova. Assim como a disciplina já existia havia muito, mas apenas há alguns séculos veio a se tornar uma técnica he- gemônica, os ditos sobre o trabalhar enquanto centralidade da vida ganharam uma nova dimensão com a Revolução Industrial. Segundo um dos aspectos mais centrais das teses foucaultianas, o poder produz discursos com efeitos de verdade (FOUCAULT, 2003). Sendo assim, a transformação das formas de produção mediante as técnicas disciplinares de poder produziram também

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