Revista da EMERJ - V.25 - n.1 - Janeiro/Abril - 2023
R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 130-146, Jan.-Abr. 2023 134 economia ateniense, podemos perceber que o ócio, longe de ser algo improdutivo, é capaz de trazer grandes contribuições para o coletivo. Além de ser essencial para a manutenção da qualidade de vida, também promove ideias, e ideias são capazes de trazer avanços para a humanidade. Justamente por reconhecer a impor- tância do ócio é que a sociedade ateniense o almejava. Contudo a forma que instituíram para garanti-lo é muito pouco louvável. É importante compreender que essa relação com o trabalho não era um aspecto isolado, mas estava intimamente ligada à mentalidade e, consequentemente, ao modo de vida dos atenien- ses. A forma com que se concebe o trabalho interfere diretamente na forma como se vive quando não se está trabalhando. Isso sig- nifica que as bases de uma sociedade exercem influência em sua totalidade e que é preciso um olhar sobre seus fundamentos para compreendê-la. Gorz (2003) demonstra que o trabalho servil na Antigui- dade – como podemos observar na sociedade ateniense – era in- digno do cidadão. Aquele que servia era considerado escravo de suas necessidades. O autor também elenca as ideias de Platão, que contrapunha liberdade à necessidade. O cidadão só pode- ria ser verdadeiramente livre enquanto suas necessidades não o aprisionassem. Aquele que está preso a suas necessidades bási- cas leva uma existência pautada na sobrevivência e não é capaz de usufruir plenamente da vida, muito menos da plenitude de sua capacidade intelectual. Gorz (2003, p.21) ainda afirma: “O que chamamos ‘traba- lho ’ é uma invenção da modernidade . A forma sob a qual o co- nhecemos e praticamos, aquilo que é o cerne de nossa existência, individual e social, foi uma invenção mais tarde generalizada do industrialismo . ”. E quando o autor considera o trabalho como invenção da modernidade, não se refere ao ato humano de modi- ficar a natureza com fins de extrair algo desta, pois essa prática já existia havia muito. Mas se refere à forma como essa prática se dá atualmente, ou seja, a forma com a qual se organizam as relações e o modo de pensar que as envolve.
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