Revista da EMERJ - V.25 - n.1 - Janeiro/Abril - 2023

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 82-104, Jan.-Abr. 2023  101 A opção do Dandara pelo investimento educacional de suas acolhidas não é aleatória: avalia-se que um dos motiva- dores para o insucesso do acolhimento é a falta de perspectivas diante do eventual desligamento, uma vez que a escolaridade muito baixa compromete a autonomia das adolescentes. A esco- larização torna-se, assim, essencial para a inclusão social dessas adolescentes. Essa percepção foi crucial para que novos proje- tos fossem pensados. Para tanto, além de uma nova aborda- gem junto às direções das unidades escolares disponibilizadas, firmaram-se convênios com projetos de reforço, cursos extra- curriculares e o programa Jovem Aprendiz para a obtenção do primeiro emprego. Também foram intensificados esforços para propiciar a aceleração escolar das adolescentes e inscrições no ENCCEJA (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) para aquelas cuja relação idade/escolari- dade estivesse desproporcional. Isso não apenas reflete diretamente na performance dessas crianças e adolescentes, como aponta para uma estandardização de cunho elitista e homogeneizante no processo formativo que pesará contra elas. Uma das contradições de uma rede excluden- te de relações, tal padronização não respeita as características particulares, individuais, dos alunos e tampouco os processos específicos (e subjetivos) de aprendizagem (ANJOS et. al., 2013). Consequentemente, contribui para que essa população perca o interesse pelo processo educacional e frequentemente o abando- ne. Romper com conceitos arraigados e a postura hermética do ambiente escolar permite que a nova práxis inclusiva estenda-se ao lugar de fala e à inscrição no mundo daqueles cujo desempe- nho e aprendizagem eram comprometidos. Assim, é necessário que se tenha uma atenção especial para crianças e adolescentes vulneráveis, vítimas de negligência, abu- sos e abandono. Pois, à medida que essas meninas – oriundas de diferentes meios culturais e sociais e frequentemente sem acesso ao capital cultural exigido pela própria escola – não conseguem corresponder às expectativas criadas, tornam-se mais estigma-

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