Revista da EMERJ - V. 24 - n.3 - Maio/Agosto - 2022

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 24, n. 3, p. 74-100, Set.-Dez. 2022  82 sidade de as pessoas se governarem, os falsos relatos ( fake news ) e a proliferação de bolhas de informação geram fragmentação, po- larização e extremismo. As bolhas de informação, possível pro- dutos da personalização de notícias oferecidas pelas plataformas de serviços, contribuem para a polarização de grupos, na medida em que pessoas com uma mesma opinião acabam concebendo versões ainda mais extremas do que tinham antes de começarem a conversar. E essa prática das plataformas se revela um verda- deiro pesadelo para a democracia. A questão das notícias falsas está sendo atrelada ao conceito da pós-verdade, que acima discutimos. Como vimos, a pós-verda- de não estaria sendo encarada como uma mentira propriamente dita, mas algo afirmado com convicção, não condizente com a re- alidade. Sem a pretensão de aprofundar estudo sobre o tema, que até poderia render uma dissertação, fato é que as mentiras e as opiniões tendenciosas sempre fizeram parte da realidade do mun- do e, sobretudo, da realidade brasileira, o que acabou por gerar completa desconfiança da sociedade não apenas em relação à mí- dia tradicional, como também em relação às próprias instituições. Os fatos narrados demonstram que a crise da informação é mundial. Mas, no Brasil, ela ganha um viés mais dramático. É que segundo dados estatísticos oficiais divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, 52,6% dos brasileiros na faixa etária de 25 anos ou mais não concluíram a educação básica (ensinos fundamental e médio). A maior parte, 33,1%, não terminou sequer o ensino fundamental. Outros 6,9% não têm instrução alguma, 8,1% têm o fundamental completo e 4,5% têm o ensino médio incompleto. 5 Temos assim um resul- tado explosivo: a circulação de uma enxurrada de notícias fal- sas e tendenciosas, propagadas por todas as partes, e a completa impossibilidade de exercício de uma capacidade crítica de, pelo menos, metade da população brasileira. É o resultado de décadas de descaso, que hoje cobra sua conta. 5 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/ releases/28285-pnad-educacao-2019-mais-da-metade-das-pessoas-de-25-anos-ou-mais-nao- -completaram-o-ensino-medio (Acesso 20/01/2021).

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