Revista da EMERJ - V. 24 - n.3 - Maio/Agosto - 2022

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 24, n. 3, p. 74-100, Set.-Dez. 2022  79 a população em certos assuntos e, em sentido oposto, influenciar negativamente a população, gerando problemas relacionados fundamentalmente com o apoio da opinião pública. Por outro lado, de forma assertiva, adverte MIGUEL (2017) que, nos regimes que geralmente aceitamos como “democráti- cos”, o povo não governa, e sua influência nas decisões políticas é filtrada tanto pela representação política como pela mídia. A mídia, portanto, entendida como meio de comunicação em mas- sa, representa: (i) a principal fonte de informação dos cidadãos sobre o mundo social; (ii) o principal canal de difusão dos discur- sos dos líderes políticos; (iii) e o principal ambiente onde ocorre o debate político. De fato, o papel exercido pela mídia em termos políticos é tão expressivo que ela passa até a atuar como uma espécie de quarto poder: (i) seja por assumir um papel de publiciza- ção de certos temas em detrimento de outros e, portanto, de determinar a agenda pública, dando publicidade aos atos dos governantes; (ii) seja por exercer espécie de poder moderador não constitucionalizado, conforme leciona Albuquerque (2009 apud RIZZOTO, p.112). A mídia tem o privilégio de transformar os fatos em notí- cias. E, ao conhecer dos fatos, ela faz seu juízo de valor e constrói uma determinada narrativa que condiga com seus interesses, ainda que o faça com extrema boa-fé. Então ela define por cri- térios próprios, como bem observado por MIGUEL (2017), que fatos (com suas respectivas narrativas) serão noticiados e qual destaque cada um deverá receber. O resultado disso é que tais narrativas também se disseminam, sem que haja contraposições relevantes. E ainda que estas se apresentem, já nascem desacredi- tadas e fadadas ao insucesso, pelo simples fato de contrariarem a narrativa midiática. É válido esclarecer que a construção de narrativas pela in- terpretação dos fatos não é obviamente um modo de proceder exclusivo da mídia. Trata-se de prática elementar que acompa- nha a formação da própria sociedade. Nesse sentido, segundo