Revista da EMERJ - V. 24 - N. 2 - Maio/Agosto - 2022
15 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2, p. 9-25, Mai.-Ago. 2022 papel socioeconômico numa estrutura herdada da Revolução In- dustrial Inglesa: burguesia e proletariado. Chegamos, finalmente, aos tipos “apocalípticos” e aos “in- tegrados” que nomeiam a obra de Umberto Eco. Como sabemos, o pensador polímata Umberto Eco siste- matizou a relação entre informação (cultural ou referencial) e espectador (ECO, 1993), indo ao zênite da discussão que, como mostramos, se iniciou antes mesmo de Sócrates e foi explicita- mente ancorada com Marx, Freud e a Escola de Frankfurt. Ou seja, toda a discussão entre cultura de massa e cultura aristocrá- tica ou, como temos falado aqui, cultura crítica. O “apocalíptico” de Umberto Eco, como sabemos, se meto- nimiza na figura do “super-homem”, não apenas o de Nietzsche (Übermensch), mas também o da DC Comics , surgido em 1938 numa revista em quadrinhos para a massa social. O super-ho- mem de Nietzsche não se distancia tanto do personagem com músculos de aço da indústria cultural. Surgido em 1881, em Assim falou Zaratustra , o pensador persa a quem Nietzsche dá voz inquire e exorta: “Eu vos ensino o super-homem. O homem é algo a ser superado. Que fizestes para superá-lo?” (NIETZS- CHE, 1998, p. 112). Num caso e noutro, trata-se do protótipo metafórico (na acepção da Linguística cognitiva) do ser humano que, tendo ou não procedência da massa, dela se destaca, passando a não mais fazer parte de seu suposto rebotalho. O super-homem de Niet- zsche nasce da massa humano-terráquea, despertando do “sono dogmático” e da “normose”, na sua acepção fundamental e tam- bém na que provém de parte significativa de nossas investiga- ções sobre o tema, mantendo uma normalidade/norma vigente. Ao passo que o super-homem da DC Comics já é aristocrata de nascença, pois veio do fictício planeta Krypton, onde foi chama- do como Kal-El. O super-homem é o apocalíptico, a antecâma- ra consoladora da nossa possibilidade de ascendermos sobre a massa normótica e dotarmos de volume a nossa voz de autorida- de. Em outros termos, é também a possibilidade de mudança de
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