Revista da EMERJ - V. 24 - N. 2 - Maio/Agosto - 2022

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2, p. 9-25, Mai.-Ago. 2022  14 Toda essa discussão nasceu com a dialética socrática (até mesmo antes dela), levada à pátina da Literatura por seu aluno desobediente: Platão. Entre o plano das ideias e o plano das coi- sas em si, pairava o fantasma do simulacro . Este pode ser muito bem decalcado, mutatis mutandis , à mediação performativa dian- te da ideia da autoridade que se expressa. Os grandes personagens de diálogos de Sócrates-Platão a esse respeito são o “Protágoras” e o “Górgias”, é claro (PLATÃO, 1997). Sofistas, ambas as personalidades (ou autoridades) foram confrontadas com a existência possível (e provável, em Sócrates- -Platão) de uma Verdade. Aletheia ou Logos . Veritas , como se con- clama no apanágio de Harvard. Assim, “o homem como medida de todas as coisas”, em Protágoras, era cruamente contrastado com o Logos socrático-platônico, esmaecendo. Górgias, ao menos, era mais franco em sua forma de retórica sofista, recusando uma “virtude universal” ( Arete , em idioma ático) e relativizando-a de acordo com as classes sociais que perfaziam a Pólis. É nisso que Górgias, mas não Protágoras, se assemelha aos filósofos cínicos, como Antístenes e Diógenes. Prosseguindo a tríade grega com Sócrates e Platão, o funda- dor do Liceu, Aristóteles de Estagira, já estudava a retórica como forma de obter “meios de prova”. Segundo ele, como é consabi- do, esses meios se iniciavam com o Logos (um rastro de verdade) de seu Mestre Platão, mas imediatamente se desdobravam em Ethos (a adesão a uma forma de discurso relativamente estável que encampa certo grupo de pessoas ou audiência) e Pathos (a capacidade enunciativa de convencer aquela audiência pretendi- da). Tratamos do assunto em outros artigos e, mais detidamente, em recente livro nosso (CAETANO; CHINI, 2020). Saltando alguns séculos, encontramos em Marx (1988) e em sua dialética a distinção entre a “massa crítica” e a “massa de mais-valia”, uma forma importante de relacionar a recepção dos enunciados, perpassada pelo modo de produção capitalista. Segundo Marx, esses dois Ethi recuperam, sistematizam e repas- sam a informação (denotativa ou conotativa) em função de seu

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