Revista da EMERJ - V. 24 - N. 1 - Janeiro/Abril - 2022
29 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 11-32, Jan.-Abr. 2022 de cidadania. As proteções foram sendo vinculadas às posições ocupacionais de trabalho e por onde o eixo estruturante de cida- dania se consolidou como forte componente de integração. Hoje a solução é completamente inversa. A desfiliação de nossos dias é uma realidade que se produz em diversas esferas das relações sociais, profundamente sentida nos laços construí- dos no mundo do trabalho. Esse mecanismo é ainda tão forte e potente nos dias de hoje, que as pessoas que não têm trabalho se sentem duplamente desencaixadas, sem proteção e buscam a redenção num sonho de pertencimento cada vez mais transitório e distante. Essa forma de integração se fundiu como mecanismo tão potente como matriz existencial, que as descontinuidades que se deram são ainda muito fortes nos dias de hoje, na medida em que seus traços se fazem presentes quando hoje as pessoas sem trabalho sentem-se sem chão e sem horizonte. É sob essa perspectiva que se alerta sobre a necessidade de invenção de novas relações nas redes. A partir disso, suscita-se que o modelo de cidadania tradicional parece estar se esgotando, e isso não é um fenômeno que advém da atualidade de nossos dias. As transformações se dão por movimentos caóticos. Hoje temos uma nova dinâmica das cidades de um protagonismo que ainda está se formando e pode vir a se constituir em resposta às exigências da contemporaneidade. Avista-se o surgimento de uma nova linguagem, menos convencional, uma fala que inter- roga, que diz e mostra, teatraliza e mente e que, de certa forma, também faz referência às exigências da contemporaneidade em que o sujeito se apresenta fragmentado e ambivalente, repleto de infinitas identidades. Embora a cidadania continue ainda referência como modo de pertencer enquanto matriz institucional, agora ela quer ser outra e pertencer de modos novos. Parece-nos que essa cidada- nia quer se mostrar não somente como um Estado-nação, mas como um Estado-nação emergente, com formas de deliberação para dar conta das questões do dia a dia e da diversidade e não somente circunscrita a uma tímida e aparente democracia repre-
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