Revista da EMERJ - V. 24 - N. 1 - Janeiro/Abril - 2022
25 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 11-32, Jan.-Abr. 2022 tempo doméstico se desterritorializassem, criando nova relação com o tempo e com o espaço. Diferentemente das formas de or- ganização da vida em unidades de blocos de tempo sequencial- mente previstos e organizados. Guy Standing (2013) entende da seguinte maneira o que a sociedade de mercado global está fazendo com a nossa percep- ção de tempo: Historicamente, cada sistema de produção tinha como estru- tura norteadora um conceito específico de tempo. Na socieda- de agrária, a tarefa e o trabalho eram adaptados ao ritmo das estações e das condições climáticas. Qualquer ideia de um dia de trabalho normal de 10 ou 8 horas teria sido absurda. Não havia sentido em tentar arar a terra ou fazer a colheita sob uma chuva torrencial. O tempo podia não esperar pelo homem, mas o homem respeitava seus ritmos e variações es- pasmódicas. (STANDING, 2013, p.178). Percebe-se, assim, que a organização da vida, anteriormen- te regulada e disposta em blocos de hora como hora de traba- lhar, hora de estudar, hora de socializar, está sendo construída em uma relação tempo-espaço totalmente diferente da produção regulamentada pelo tempo e pelo espaço limitado em lugares físicos e restritos, sendo esses referenciais alterados substancial- mente com forte impacto nas cidades e nas relações que se es- tabelecem a partir do contato com o outro e com o sentido de pertencimento social. O funcionamento da sociedade e da produção era baseado em blocos de tempo, junto com ideias de locais de trabalho e de moradia fixos. Durante a vida, as pessoas frequentavam a escola por um curto período, depois passavam a maior parte da vida trabalhando e depois, se tivessem sorte, tinham um curto período de aposentadoria. Durante seus “anos de traba- lho”, acordavam de manhã, trabalhavam por 10 ou 12 horas, ou pelo tempo que estivesse estabelecido em seus contratos vagamente definidos, e depois iam para “casa”. Havia “feria- dos”, mas eles encolheram durante a industrialização e foram substituídos gradualmente por curtos blocos de férias. Em-
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