Revista da EMERJ - V. 23 - N. 1 - Janeiro/Março - 2021

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 246-266, Jan.-Mar. 2021  253 fontes e formas de disseminação, deveu-se, em grande parte, ao trabalho do movimento anti-AIDS organizado pelos gays. (CASTELLS, 2018, p. 339) Em 27 de novembro de 2018, foi publicado o mais recente Manual Técnico para Diagnóstico da Infecção pelo HIV emAdul- tos e Crianças, no qual constam, além dos testes de 4ª geração, que reduzem a janela imunológica para 15 dias, os testes rápidos, que são, também, capazes de detectar o vírus da AIDS. Logo, nada impede que, no mínimo, o laboratório aguarde 15 dias para fazer o exame de detecção do vírus, em vez de, simplesmente, descartar o doador em virtude de sua orientação sexual. Em 2002, a Resolução da Anvisa RDC nº 343, de 13 de de- zembro de 2002, alterou a proibição permanente de doação de sangue para provisória, ou seja, o homossexual poderia doar san- gue desde que houvesse um lapso temporal de 12 meses, o que é desproporcional, em virtude de que a janela de imunidade, como verificado, é bemmenor do que esse tempo. Além disso, apesar da ilusão legislativa de que houve um avanço, na prática, os homos- sexuais permaneciam permanentemente afastados da possibilida- de de doar sangue, uma vez que a referida Resolução interferia indevidamente em sua vida privada, praticamente impedindo tais homens de terem qualquer atividade sexual, algo que não é exigi- do para mulheres heterossexuais que se envolvem com homens. Ressalta-se que a desvalorização, ou melhor, reprovação da prática sexual homossexual equivale a uma degradação valorati- va da autorrealização do homem homossexual e lhe retira a sua autoestima a ponto de sentir-se estimado por suas características peculiares. Nesse sentido, seguem as palavras de Honneth: A degradação valorativa de determinação dos padrões de autorrealização tem para seus portadores a consequência de eles não poderem se referir à condução de sua vida como a algo a que caberia um significado positivo no interior de uma coletividade; por isso, para o indivíduo, vai de par com a experiência de uma tal desvalorização social, de maneira típica, uma perda de autoestima pessoal, ou seja, uma perda de possibilidade de se entender a si próprio como um ser

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