Revista da EMERJ - V. 23 - N. 1 - Janeiro/Março - 2021

163  R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 142-184, Jan.-Mar. 2021  a um processo de desligamento do universo feminino. Segundo o terceiro capítulo de “Adominação masculina”, seja através das re- presentações familiares 29 , das referências culturais 30 ou da institui- ção escolar, categorias estigmatizantes 31 se encarregamde designar como cada indivíduo, através do seu gênero, deve se comportar, se perceber e ser percebido enquanto membro da coletividade hu- mana. Assim estabelece-se uma prévia separação entre os gêneros através de linhas muito bem demarcadas sobre as características fundamentais e intrínsecas de cada um deles. Os processos de “masculinização” e de “feminilização” dos corpos se apresenta como produto de sucessivas e progressivas (re)modelagens aplica- das pelas relações de dominação da estrutura masculina, de modo a distanciá-la do universo feminino e de suas representações. 2.2 Dos banheiros. O banheiro, enquanto espaço, é o local específico para re- alização de necessidades fisiológicas inerentes aos seres huma- nos. Contudo, tal definição não abarca a sucessão de interações entre os indivíduos de uma mesma sociedade que se estabele- cem a partir e em função da arquitetura dos banheiros. Homens e mulheres, como genericamente se estabelece, são separados em banheiros distintos. Danieli Siqueira (2014), em seu perió- dico “O banheiro: um prisma para reflexões sobre relações de gênero a partir da perspectiva simmeliana”, a partir da obra “A Ponte e a Porta”, de Simmel, lança mão de uma metáfora de Simmel, para elucidar o que ocorre entre os banheiros: “Tal como Simmel retrata este processo relacional a partir da sepa- ração das margens do rio pela ponte, o mesmo ocorre com o banheiro, que separa os elementos que a priori estão unidos, o ‘feminino’ e o ‘masculino’” 32 . 29 Na qual a divisão sexual do trabalho designa às mulheres as relações privadas e aos homens as ativida- des públicas ligadas, sobretudo, ao sustento da família. 30 Amoral patriarcal é o maior exemplo de como “mulher” e “homem” se distanciam. 31 A palavra “estigma” e suas variáveis serão amplamente abordadas no artigo. Isso porque ela é uma palavra fundamental que reúne em si a ideia de qualquer característica que não se coaduna com as expec- tativas sociais que se tem de um determinado sujeito. Refere-se, basicamente, ao processo de generalizar um sujeito em virtude de características específicas dele, de modo a esvaziar sua individualidade. 32 A autora continua: “(...) O banheiro, (...) pode ser ponte e pode ser porta. Ponte no momento em que

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