Revista da EMERJ - V. 23 - N. 1 - Janeiro/Março - 2021

160  R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 142-184, Jan.-Mar. 2021  masculino e feminino, o qual se associa em última instância às determinações “homem-pênis” e “mulher-vagina”. Segundo Bourdieu (1998), o que se entende por “masculino” refere-se à negação do que se entende por “feminino”. Como pares antité- ticos clássicos de uma experiência dialética, “homem” e “mu- lher” se desdobram, respectivamente, em quente e frio, duro e mole, seco e úmido, público e privado, sagrado e profano, fora e dentro, aberto e fechado, sólido e líquido etc. Nesse momento, criam-se dois polos, ativo e passivo, que são responsáveis pela socialização dos seres humanos, cada qual referente a seu para- digma essencial “homem-pênis” e “mulher-vagina”, por meio de padrões comportamentais e construções simbólicas exclusivas de cada um desses polos. Dessa explicitação, depreendem-se duas premissas básicas: o modo como o sujeito se apresenta biologicamente diante da so- ciedade nada tem de natural – sequer sua anatomia como a com- preende socialmente o tem –; e, além disso, o modo como esse sujeito associa-se às representações próprias de cada polo sequer se relaciona a uma autonomia de suas vontades, uma vez que se encontra inscrito “na ordem social das coisas”. A essa primeira premissa, atribui-se o termo “sexo”. Já à segunda, atribui-se o termo “gênero”. 2.1.2 Relações de interação entre os corpos e identidades so- ciais: cisgênero, transgênero, transexual e travesti. Simbolicamente, o chamado “discurso mítico” e os cha- mados “ritos de instituição” 25 envolvem o sujeito no polo com- portamental referente a seu sexo, instituindo o que se denomina “identidade social”. Assim, “os princípios antagônicos da iden- tidade masculina e da identidade feminina se inscrevem (...) sob forma de maneiras permanentes de se servir do corpo, ou de manter a postura, que são como que a (...) naturalização de uma ética” (BOURDIEU, 2012[1998], p. 20) e de uma estética. Con- tudo, esse processo de socialização por meio do qual os corpos 25 “Eventos” que inferem verdadeira instituição do padrão comportamental dos gêneros e de suas cons- truções simbólicas.

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